
Mais do que à própria Revolução de 1917, os comboios na Rússia estiveram fortemente associados à fase que se seguiu, a da implantação e consolidação do poder soviético. Quem se lembrar dos filmes dos tempos da
Guerra Civil (como
Dr. Jivago) recorda-os discretos mas omnipresentes e fundamentais para o desfecho. Nesse contexto, não parece surpreendente que aquelas locomotivas mais
aguerridas tivessem sido baptizadas com o nome de José Estaline (acima) numa época em que quase tudo recebia o seu nome…

O que será surpreendente é como, muito depois do fim do
estalinismo, as locomotivas ainda continuaram a manter a sua estrela vermelha frontal dos velhos tempos. E havia um outro
pormenor ferroviário que abalava profundamente as convicções socialistas dos muitos jovens militantes comunistas estrangeiros que visitavam a
pátria do socialismo: num país cujo objectivo confesso era aboli-las visando a implantação do dito
comunismo, podia-se escolher entre três ou quatro classes quando se pretendia viajar de comboio…

Pondo de lado a ideologia, a explicação para este
desvio capitalista tem a sua lógica. Considerada a extensão do país a maioria das viagens são longas, demoram dias (o famoso
Trans-Siberiano demora oito dias a percorrer os mais de 9.000 km entre Moscovo e Vladivostok) e as carruagens cama tornam-se por isso fundamentais. As opções à escolha são as de
viajar em compartimento com dois (1ª Classe) ou quatro beliches (2ª Classe) ou ainda em espaço aberto com (3ª Classe) ou sem beliche para dormir (4ª Classe).

Claro que para os jovens militantes comunistas vindos do Ocidente capitalista que, depois da Segunda Guerra Mundial, até
compactara as classes do transporte ferroviário de três para duas, abolindo a
popular Terceira dos
bancos de pau, esta complexidade sofisticada era, para além de mais uma
grande conquista do socialismo, algo
difícil de entender. Mas para
espíritos abertos que conseguiam entender o propósito de proceder a uma invasão de blindados em Berlim, Budapeste ou Praga, a aparente contradição nunca foi nada demais...
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