19 outubro 2009

UMA QUESTÃO DE SUPREMACIA...

Nova Iorque 1997 é um filme de John Carpenter, escrito em 1976 e filmado em 1981, quando 1997 era ainda uma data longínqua. Nesse cenário futurista, Nova Iorque transformara-se numa gigantesca prisão onde se criara uma sociedade auto-regulada dentro de muros e onde, acidentalmente, se veio a despenhar o avião do presidente dos Estados Unidos. O resto da história não nos interessa para a continuação deste poste, mas o que quero destacar é a ideia implícita naquele enredo onde, mesmo que o Estado tivesse abdicado dos seus direitos de regular detalhadamente o modo de vida dos seus marginais, remetendo-os para um gueto, estes permaneciam num patamar tecnológico controlado, já que não conseguiam interferir com o que se passava no seu espaço aéreo.
Quando rebeldes ao poder estabelecido se mostram capazes de interferir em áreas que até então lhes haviam sido interditas, como é o caso do espaço aéreo, o acontecimento tem um impacto significativo na percepção da ameaça que eles passam a representar. Aconteceu em 1973, na Guiné portuguesa, quando o PAIGC, recorrendo aos mísseis SA-7, se mostrou capaz de poder abater qualquer aeronave da Força Aérea portuguesa, aconteceu em 1978, na Rodésia, quando a ZAPU, recorrendo à mesma arma, se mostrou ser capaz de interromper o tráfego aéreo civil (acima) sobre o país (o actual Zimbabué), e voltou a acontecer em 2009, quando os traficantes de uma favela do Rio de Janeiro, recorrendo a metralhadoras pesadas, abateram um helicóptero da Polícia Militar que os sobrevoava.
Convém esclarecer que qualquer dos episódios teve e tem muito mais importância mediática do que militar. Em qualquer dos casos passados, os flagelados passam a adoptar tácticas de voo e contra medidas para que as aeronaves se evadissem ao fogo anti-aéreo. A aviação militar rodesiana já não foi apanhada de surpresa como o fora a portuguesa e foi por isso que a ZAPU teve que atacar a aviação civil. Da mesma maneira, a Polícia Militar brasileira terá que reagir à ameaça, adoptando novas tácticas de voo, que até já são conhecidas de há muito. Mas terá os seus custos políticos, se a sua frota aérea tiver de passar a operar em grupo, com unidades especializadas em reconhecimento e em ataque ao solo, conforme acontece na famosa cena da Cavalgada das Valquírias do Apocalypse Now

2 comentários:

  1. Há uma guerra aberta nas grandes metrópoles do Brasil. Uma guerra não declarada oficialmente e que,em vez de disputar o poder, luta por território, por mais espaço onde possa admnistrar a sua lei. Nas mãos dos senhores da guerra em África ou dos traficantes de droga no Rio a guerra pelo espaço decorre há muito tempo. Já não é política nem sequer de reivindicação social. É uma guerra aberta entre o crime e o poder instituído. Entre o renascer da lei da selva e o declínio do Estado de Direito. "Black Hawk Down", Tropa de Elite", "Cidade de Deus". E como diria o Laurodérmio: "and so yon, and so yon..."

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  2. A diferença da situação no Brasil será uma questão de visibilidade por causas que seria exaustivo aqui explicar, mas não de substância.

    O racket (a protecção paga pelos comerciantes) não tem nada de origem luso-brasileira, já existia há quase 100 anos nos Estados Unidos, ainda existe hoje em dia, e é um exemplo claro de desafio ao Estado de Direito, que se mostra incapaz de fornecer um bem tão elementar quanto a segurança aos seus cidadãos...

    Artur, queres acrescenter alguns filmes de gangsters aqui ao rol, sff?

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