08 outubro 2009

... A OCASIÃO PARA FAZER AS MINHAS COLHERES

Diziam os velhos ditados populares que Quem não sabe fazer mais nada, faz colheres ou que Quem sabe faz e quem não sabe ensina. Adaptados a estes nossos tempos de blogosfera quem não tem ou não sabe de nenhum outro assunto sobre o qual escrever então dedica-se a fazer análises políticas. Contudo, tenho de dar alguma razão aos que se dedicam a essa prática quando as referências mediáticas são, apenas para citar os dois últimos exemplos que empreguei neste blogue, Ricardo Costa e Carlos Abreu Amorim. Com exemplos como eles pode facilmente deduzir-se que a argúcia política é como o olho do cu: toda a gente tem (um).

É por ser costume que estes temas sejam tratados com uma grande superficialidade (com honrosas excepções) que tenho algum receio por este poste. Trata-se apenas de um conjunto de curiosidades políticas, tomando em conta os resultados eleitorais das eleições europeias de Junho passado e as recentes legislativas e uma comparação entre elas. Há quatro meses atrás houve 3.569.000 eleitores e nas eleições cujo escrutínio só ontem terminou foram 5.684.000. Ora a minha ideia é a de analisar especificamente qual foi a distribuição de votos dos 2.115.000 eleitores que, tendo-se abstido na primeira eleição, se decidiram a votar na mais recente.

É imprescindível recordar que o PSD venceu as eleições europeias com 31,7% dos votos e o PS nessa noite levou uma tareia com 26,6%; por seu lado, BE (10,7%), PCP (10,6%) e CDS (8,4%) obtiveram todos bons resultados para as suas expectativas. Em número de votos, aquelas percentagens corresponderam a 1.131.700, 946.800 (uma estreia: a primeira vez que, em eleições nacionais, o PS teve menos de 1 milhão de votos…), 382.700, 379.800 e 298.400. Mas, a partir dessa base de votos, que percentagem dos tais 2.115.000 eleitores adicionais é que cada partido conseguiu cativar para alcançar os resultados obtidos em 27 de Setembro?

A primeira conclusão (talvez surpreendente para alguns) é que o PS conseguiu a maioria absoluta (53,5%) entre esses votantes adicionais. Terá sido mérito de José Sócrates mas apenas para cobrir o demérito do mesmo José Sócrates quando escolheu o inenarrável cabeça de lista às eleições europeias. Em valores absolutos o PS mais do que duplicou o número de votos de uma eleição para outra (946.800 para 2.077.700). Quem também duplicou o número de votos foi o CDS e Paulo Portas (298.400 para 593.000). Contado de uma outra perspectiva, isso quer dizer que Portas conseguiu seduzir 13,9% dos tais 2.115.000 eleitores adicionais.

Cativando 8,3% desse eleitorado adicional, o comportamento eleitoral do BE foi objectivamente bom, se não se considerar as expectativas entretanto geradas pelos seus. Com a simpatia de apenas 24,7% desses votantes, o resultado do PSD teria sido mau até mesmo para o PPD dos tempos históricos do PREC, enquanto a percentagem do crescimento do PCP nesses novos eleitores (uns míseros 3,2%) parece confirmar aquela impressão de há muito difundida do PCP dispor de um eleitorado disciplinado que vota sempre, faça chuva ou faça sol. Os cinco valores somados ultrapassam os 100% porque houve uma transferência líquida de 3,6% desse eleitorado dos OBN(*) para os partidos principais.

(*) Abreviatura para Outros, Brancos e Nulos.

2 comentários:

  1. Nem o Rui O.Costa fez estas contas.
    Acho-o merecedor de ir a um daqueles painéis de noite de eleições,que poderá ser já no
    próximo Domingo...

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  2. Aqui está uma análise muito interessante e particularmente diferente do que se lê por aí. Mesmo que os resultados não sejam directamente extrapoláveis, como teoricamente se assume nesta análise, a verdade é que quem deve ter mobilizado mais eleitores entre as europeias e as legislativas foram o PS e o CDS.

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