
Porém, tendo eu também já uma opinião formada sobre o assunto, se já não compreendia parte da fundamentação original de quem mim de discordava, compreendo muito menos agora a sua insistência quando procuram continuar a tentar condenar de uma forma directa ou enviesada tanto a fonte como a decisão tomada pelo Diário de Notícias de publicar o conteúdo do e-mail enviado por Luciano Alvarez. Para o caso, creio que há que ponderar os aspectos negativos da divulgação de uma comunicação privada com os positivos do conhecimento público do seu conteúdo. E este último parece-me que tem um interesse público muito mais relevante do que fotogramas do vídeo de uma sessão de sexo tântrico envolvendo o arquitecto Tomás Taveira e uma prostituta de luxo(*)…
As referências condenatórias à fonte que forneceu o e-mail ao Diário de Notícias (e, vim a saber ontem, também ao Expresso), fazem-me lembrar aquelas que então se abateram sobre Garganta Funda, a famosa fonte anónima que orientava as investigações dos dois jornalistas do Washington Post que investigavam o Caso Watergate e que, mais de 30 depois, se veio a saber tratar-se de um antigo vice-director do FBI, Mark Felt. Como sempre se suspeitou, as motivações de Felt nada tiveram de nobres e ele, objectivamente, comportou-se como um traidor para a administração de que então fazia parte, mas depois de se esgotarem as paixões políticas da ocasião, não ouvi muitas vozes que o acusassem quando a sua identidade veio a ser revelada há 4 anos atrás.

O resto do que se queira acrescentar a esse respeito são trivialidades e irrelevâncias, como algumas que foram proferidas ontem no Prós & Contras. A reter que, se com isto, José Sócrates não conseguiu melhorar a sua reputação pública, já que a história de concluir licenciaturas a um Domingo tem imenso que se lhe diga..., pelo menos a até então reputação impoluta de Cavaco Silva ter-se-á vindo emparelhar com a sua. Quando se escreve, sobre a indigitação de Sócrates, que o Presidente não confia nele, nem enquanto pessoa, nem enquanto governante está-se, mais uma vez, a ter uma visão unilateral e facciosa da questão. Vendo de fora, ficámos a saber que nenhum deles confia no outro, que não há limites até onde poderão ir por causa disso e que nós não podemos confiar nem num, nem noutro…
(*) Alusão à publicação numa revista do final dos anos 80 dos fotogramas de um vídeo privado de Tomás Taveira que deu muito brado pelo sucesso comercial – a edição da revista esgotou-se ainda na manhã do próprio dia em que saiu – e pela condenação generalizada da prática do ponto de vista deontológico. Muito menos brado mediático teve a notícia, alguns anos depois, da condenação ao pagamento de uma pesada indemnização a Tomás Taveira por parte dos responsáveis pela publicação da revista. Segundo se veio a saber, o vídeo fora roubado, mas, por essa altura, a revista já deixara de se publicar.

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