16 abril 2009

O QUE SE PASSOU NA TAILÂNDIA

Há cerca de um ano e meio, entre Setembro e Outubro de 2007, a comunicação social apareceu inundada de notícias e fotografias a respeito de tumultos na Birmânia e houve até quem, imaginativamente, a baptizasse de Revolução Açafrão, por causa da cor das indumentárias tradicionais dos monges budistas que apareciam a protagonizar as manifestações e que, acessoriamente, até davam excelentes imagens quando eram agredidos… Era uma excelente história, aparecida numa excelente altura (Agosto e Setembro são sempre meses maus para notícias), e propícia a um enredo de Hollywood, com bons (os monges) e maus (a Junta Militar que governa a Birmânia há 47 anos).

Já tive oportunidade de explicar neste blogue as condições que estiveram por detrás do nascimento do nacionalismo birmanês e que levaram a que um regime militar se venha a prolongar por quase meio século (Os Maus). Mas, se menciono aqui estes episódios recentes da história da Birmânia, é apenas para estabelecer o contraste com o que tem acontecido no seu país vizinho, a Tailândia. Precisamente um ano antes da Revolução Açafrão (19 de Setembro de 2006), os militares tailandeses também haviam estado em destaque ao promover um Golpe de Estado que derrubara o governo de gestão do 1º Ministro Thaksin Shinawatra (abaixo), cancelando as eleições marcadas para o mês seguinte.
A atender às reacções da informação norte-americana, apesar de terem declarado a lei marcial, dissolvido o parlamento, suspendido a constituição, proibido toda a actividade política e adiado sine die as eleições, os membros desta Junta Militar, ao contrário da birmanesa, eram bons. E o regime musculado erigido para governar a Tailândia não parece despertar qualquer preocupação naquelas organizações mais capazes de fazer eco das suas preocupações com as situações políticas por esse Mundo fora... Afinal, sempre vieram a ser organizadas eleições na Tailândia em Dezembro de 2007. Só que, pormenor não despiciendo, o partido de Thaksin, que ganhara as anteriores, não pôde concorrer…

Como acontece com a Venezuela, a disputa política na Tailândia parece passar por fracturas sociais entre uma elite urbana, concentrada sobretudo em Banguecoque, que sempre deteve tradicionalmente o poder político e um conjunto de classes sociais periféricas, tanto urbanas como rurais, que detêm uma maioria eleitoral aritmética. São elas que fazem Hugo Chávez ganhar nas urnas a legitimidade da sua conduta folclórica, são elas que fazem com que o Thai Rak Thai, o partido proscrito do 1º Ministro exilado, tenha conseguido obter maiorias claras nas consultas eleitorais em que participou. Mas parece que os bloqueios do regime vigente acabam por legitimar outras condutas entre os apoiantes de Thaksin…

O que eles conseguiram fazer a 11 de Abril passado foi desmontar uma importante operação de relações públicas que havia sido preparada pelo regime tailandês, acolhendo na cidade de Pattaya, uma Cimeira da organização regional asiática, a ASEAN, contando ainda com a presença dos líderes da China, da Índia e do Japão. Só que os manifestantes invadiram o hall do hotel de luxo onde a Cimeira iria decorrer (vídeo acima), obrigando as autoridades a, por precaução, evacuar pelo terraço, recorrendo a helicópteros, as delegações estrangeiras que entretanto já lá estavam instaladas. Em bom português, foi uma barracada das antigas… Mas os activistas também parecem ter-se enganado nas suas expectativas…

Ao contrário da jogada que procuravam forçar, o actual 1º Ministro, Abhisit Vejjajiva, não parece disposto a demitir-se, apesar da humilhação. E no crescendo que se sucedeu, apesar de menos documentadas do que na Birmânia, as cenas de rua pareciam mostrar um colorido tão interessante quanto o da Revolução Açafrão porque os apoiantes de Thaksin se identificam pela cor das suas camisas, vermelhas. Os incidentes saldaram-se oficialmente por 2 mortos e 123 feridos. Aparentemente, desde Londres, onde está exilado, o líder dos contestatários, Thaksin Shinawatra apelou à actuação pacífica dos seus apoiantes e à intervenção do Rei, Rama IX (abaixo), coisa que este, mais do que provavelmente, não fará.
Não resisto a uma pequena nota final sobre a premência das notícias disponíveis, oriundas das agências noticiosas, quase todas insistindo em como a situação na Tailândia já se encontra pacificada, em contraste com a forma como foi feita a cobertura da Revolução Açafrão, que foi explorada pelas mesmas agências noticiosas até aos últimos incidentes… Ou o tratamento informativo dado agora a Thaksin Shinawatra em contraste com a benevolência que costuma ser dada à Prémio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi… Como se sabe, isto de pertencer à esfera de influência norte-americana tem muito que se lhe diga em termos de identificação mediática sobre quem são os bons e os maus

2 comentários:

  1. "A Tailândia está na iminência de ser um país excepcional tão mundano quanto outros países e a transição consiste no fato das pessoas estarem acordar para os seus direitos. A igualdade parece ser algo novo na Tailândia."
    Jakrapob Penkair

    Será mesmo assim ou será simplesmente cada cor (de camisa) seu paladar?...

    ResponderEliminar
  2. Não sei se será mesmo assim JRD. O que me parece é que existe uma situação de tensão política estrutural na Tailândia, porque as suas elites tradicionais (económica, política, etc.) já se aperceberam que se recorrem a uma disputa eleitoral, perdem o poder. E não estão dispostas a isso.

    Aliás, regressando à comparação com a Venezuela, com este folclore à volta de Chávez depois de ele alcançar o poder, as pessoas já se esqueceram (se alguma vez souberam), que a Venezuela sempre teve um partido de centro-esquerda, membro da Internacional Socialista e que até esteve no poder (Acção Democrática). O seu dirigente, Carlos Andrés Perez foi presidente por duas vezes e era, aliás, também (mais) um “ami” de Mário Soares. Com estas alternâncias (AD e Copei), as elites venezuelanas conviviam descontraidamente. Com Chávez na jogada é que não…

    ResponderEliminar