12 janeiro 2009

DUAS NOSTALGIAS

Depois de um poste intitulado Duas Despedidas de dois autores brasileiros, permitam-me agora neste poste apresentar duas músicas que classifiquei como Duas Nostalgias. A história das duas canções abaixo tem um traço comum: trata-se da nostalgia associada às namoradas de juventude dos seus dois autores, namoradas essas que entretanto ascenderam socialmente na vida, enquanto eles, nostálgicos, evocam os tempos antigos…

A primeira intitula-se Where Do You Go To (My Lovely), está a fazer 40 anos (data de 1969), é inglesa e cantada por Peter Sarstedt, a segunda, Michèle, é de origem francesa, data de 1976 e é interpretada por Gerard Lenorman. Por coincidência, existe uma pequena curiosidade associada à origem tanto de um como doutro autor: enquanto Sarstedt nasceu na Índia, numa família anglo-indiana, Lenorman é filho de um soldado alemão das forças de ocupação em França.



Where Do You Go To (My Lovely)

You talk like Marlene Dietrich
And you dance like Zizi Jeanmaire
Your clothes are all made by Balmain
And there's diamonds and pearls in your hair, yes there are

You live in a fancy apartment
Off the Boulevard Saint-Michel
Where you keep your Rolling Stones records
And a friend of Sacha Distel, yes you do

But where do you go to my lovely
When you're alone in your bed
Tell me the thoughts that surround you
I want to look inside your head, yes I do

I've seen all your qualifications
You got from the Sorbonne
And the painting you stole from Picasso
Your loveliness goes on and on, yes it does

When you go on your summer vacation
You go to Juan-les-Pins
With your carefully designed topless swimsuit
You get an even suntan on your back and on your legs

And when the snow falls you're found in Saint Moritz
With the others of the jet-set
And you sip your Napoleon brandy
But you never get your lips wet, no you don't

But where do you go to my lovely
When you're alone in your bed
Won't you tell me the thoughts that surround you
I want to look inside your head, yes I do

Your name, it is heard in high places
You know the Aga Khan
He sent you a racehorse for Christmas
And you keep it just for fun, for a laugh, a-ha-ha-ha

They say that when you get married
It'll be to a millionaire
But they don't realize where you came from
And I wonder if they really care, or give a damn

Where do you go to my lovely
When you're alone in your bed
Tell me the thoughts that surround you
I want to look inside your head, yes I do

I remember the back streets of Naples
Two children begging in rags
Both touched with a burning ambition
To shake off their lowly-born tags, so they try

So look into my face Marie-Claire
And remember just who you are
Then go and forget me forever
But I know you still bear the scar, deep inside, yes you do

I know where you go to my lovely
When you're alone in your bed
I know the thoughts that surround you
'Cause I can look inside your head


Falas como Marlene Dietrich
E danças como Zizi Jeanmaire
A tua roupa é toda de Balmain
E há diamantes e pérolas pelo teu cabelo, ai isso há…

Vives num apartamento de luxo
No Boulevard Saint Michel
Onde guardas os teus discos dos Rolling Stones
Mais um amigo de Sacha Distel, pois é…

Mas, para onde vais, minha querida,
Quando te vês sozinha na cama?
Conta-me em que é que estás a pensar
Quero saber no que pensas, ai isso eu quero…

Já vi todos os teus certificados
Que obtiveste da Sorbonne
E o quadro que roubaste ao Picasso
O teu encanto cada vez é maior, pois é…

Quando fazes as férias de Verão
Vais para Juan-les-Pins
Com o teu fato de banho topless de design
Para ficares com um bronzeado igual nas costas e nas pernas...

Quando a neve cai, encontram-te em St. Moritz
Com os outros do jet-set
E bebericas conhaque Napoleon
Mas não deixas que os teus lábios se molhem, isso não…

Mas, para onde vais, minha querida,
Quando te vês sozinha na cama?
Conta-me em que é que estás a pensar
Quero saber no que pensas, ai isso eu quero…

Ouve-se o teu nome nas altas esferas
Conheces o Aga Khan
Que te mandou um cavalo de corridas pelo Natal
Que conservas só por piada, para rir, ah ah ah ah

Dizem que quando te casares
Será com um milionário
Mas não sabem de onde vieste
E pergunto-me se se importam, ou se ralam…

Mas, para onde vais, minha querida,
Quando te vês sozinha na cama?
Conta-me em que é que estás a pensar
Quero saber no que pensas, ai isso eu quero…

Recordo as travessas de Nápoles
E duas crianças andrajosas a pedir
Ambas ardendo de ambição
De deixar aquela vida, e assim tentaram…

Encara-me de frente, Marie Claire
E lembra-te de quem é que és
Depois vai e esquece-me para sempre
Mas eu sei como ainda estás marcada lá no fundo, isso estarás…


Michèle

Tu avais à peine quinze ans
Tes cheveux portaient des rubans
Tu habitais tout près
Du Grand Palais
Je t'appelais le matin
Et ensemble on prenait le train
Pour aller, au lycée.
Michèle, assis près de toi
Moi j'attendais la récré
Pour aller au café
Boire un chocolat
Et puis t'embrasser

Un jour tu as eu dix-sept ans
Tes cheveux volaient dans le vent
Et souvent tu chantais :
Oh ! Yesterday !
Les jeudis après-midi
On allait au cinéma gris
Voir les films, de Marilyn
Michèle, un soir en décembre
La neige tombait sur les toits
Nous étions toi et moi
Endormis ensemble
Pour la première fois.

Le temps a passé doucement
Et déchu le Prince Charmant
Qui t'offrait des voyages
Dans ses nuages
On m'a dit que tu t'es mariée
En avril au printemps dernier
Que tu vis, à Paris.

Michèle, c'est bien loin tout ça
Les rues, les cafés joyeux
Mêmes les trains de banlieue
Se moquent de toi, se moquent de moi
Michèle, c'est bien loin tout ça
Les rues, les cafés joyeux
Mêmes les trains de banlieue
Se moquent de toi, se moquent de moi....
Se moquent de moi !

Tinhas acabado de fazer quinze anos
Os teus cabelos ainda tinham fitas
E moravas mesmo junto
Ao Grand Palais
Eu chamava-te de manhã
E apanhávamos juntos o comboio
Para ir para o liceu
Michèle, sentado junto a ti
Eu queria é que chegasse o recreio
Para irmos ao café
Beber um chocolate
E depois beijar-te…

Um belo dia tinhas dezassete anos
Os teus cabelos, soltos, voavam
E, frequentemente, punhas-te a cantar:
Oh ! Yesterday !
Às Quintas-Feiras à tarde

Ia-se às sessões de reposição
Ver os filmes de Marylin
Michèle, numa noite de Dezembro
A neve caía e cobria os telhados
Estávamos só os dois
E dormimos juntos
Pela primeira vez

O tempo passou suavemente
E acabou a época do Príncipe Encantado
Que te oferecia viagens
Nas suas nuvens
Disseram-me que te tinhas casado
Em Abril, na Primavera passada
E que vives em Paris

Michèle, como tudo isso está tão longe
As ruas, a alegria dos cafés
Até mesmo os comboios para os arredores
Troçam de ti, troçam de mim
Michèle, como tudo isso está tão longe
As ruas, a alegria dos cafés
Até mesmo os comboios para os arredores
Troçam de ti, troçam de mim
Troçam de mim.

4 comentários:

  1. Excelente!
    Estou mesmo a ficar nostálgico.

    ResponderEliminar
  2. Belo dia para puxares à nostalgia!
    Quando penso que estou mais para lá do que para cá, ouço isto, e pronto; Vou fazer o testamento.

    Também agora é fácil, depois do assalto!

    ResponderEliminar
  3. Grande lembrança, caro Herdeiro. Sobretudo a primeira.
    Já Lenorman fez apenas uma gracinha que é uma forma de homenagem aos Beatles, autores de outra (e anterior) Michèle.
    Dito isto, é verdade que Lenorman fez belas canções e é alguém que sofreu muito, não estando ainda em paz consigo nem com a mãe.
    Curiosamente, um dos seus maiores êxitos é "La balade des gens heureux".

    ResponderEliminar
  4. Donagata, a nostalgia não precisa necessariamente de ser depressiva e muito menos induzir à feitura de testamentos. Isso é do vírus!

    Carteiro seja bem reaparecido, agora que deu em distribuir correspondência em envelopes A4 com essas letras maiúsculas.

    Por falar em Lenorman, ele é autor de uma música praticamente desconhecida que é das mais "coloridas" que conheço, intitulada "Lilás", retratando aquele mesmo meio social que é aqui sugerido em "Michèle" e que suspeito que actualmente terá desaparecido.

    ResponderEliminar