19 janeiro 2009

OUVIDO NA BBC

Ouvir na BBC era uma expressão coloquial muito usada durante o antigo regime. Havia a capa dos meios de comunicação tradicionais portugueses, que apenas passavam a informação oficial autorizada e censurada, mas, quem pretendesse estar realmente bem informado, tinha de ouvir a BBC e ouvir na BBC, por mérito dos britânicos, tornou-se numa expressão que era uma chancela de uma informação fidedigna. Depois do 25 de Abril, recordo-me que um dos sintomas mais sérios em como o PREC havia entrado numa deriva totalitarista que controlava praticamente toda a informação existente em Portugal foi a constatação que havia pessoas que haviam recomeçado a ouvir a BBC... É coisa que não me esqueço nem convém esquecer especialmente quando se ouve a expressão as mais amplas liberdades democráticas
Nem de propósito, isto acontece num país onde os naturais são socialmente muito propensos a dar muita atenção a tudo o que venha do estrangeiro – incluindo as opiniões. Não é em vão que a designação consagrada para treinador de futebol é o Mister. Já somos exportadores de treinadores de futebol, mas em clubes que são tipicamente portugueses, as soluções continuam a vir lá de fora, ¿no es verdad? Em futebol, como nos outros assuntos, não sou um grande defensor das opiniões/soluções vindas do exterior, até prova da sua valia. Em treinadores de andebol, por exemplo, temos ainda muito a aprender com as escolas dos países de Leste... Mas em previsões macroeconómicas – assunto onde haverá mais especialistas do que em andebol… – o país sempre se bastou para as despesas, com umas saudáveis divergências ocasionais…
Em compita interna há sempre os números do Governo e os do Banco de Portugal e, para desempatar, os de algumas organizações internacionais, a mais utilizada costuma ser a OCDE. Agora, em momentos de grande apreensão em relação ao futuro, como é o caso actual, quando o primeiro avança com previsões e o segundo ainda não se pronunciou, parece criar-se uma situação de indecisão, a que as nuvens de dúvida que pairam sobre a figura do seu Governador, Vítor Constâncio, não ajudam nada... Talvez seja isso que justifique o recurso a ir ouvir na BBC o que se diz sobre as nossas perspectivas macroeconómicas, como se comprova em qualquer destas duas notícias de jornal (aqui e aqui). Ambas as previsões divergem significativamente das apresentados pelo governo. E tradicionalmente, quando se ouve na BBC, tende-se a acreditar na BBC…

Adenda de dia 21: A novidade desta notícia de dia 20 não é o facto de se noticiar que, quanto a previsões, a organização que Vítor Constâncio governa anda a apanhar bonés; a novidade é que quem o noticia é a Lusa, a agência de informação que está completamente controlada pelo governo...

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