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O Estado de Hyderabad poderá ser descrito como foi o de Bhopal, só que numa escala 10 a 20 vezes superior. Um monarca muçulmano auxiliado por uma classe dirigente também muçulmana e urbana (estimada em 10,6% da população total) dirigiam um Estado predominantemente povoado por hindus, que se localizava nas regiões centrais da Índia, sem saída para o mar. E mesmo antes da Independência já se antecipava que todas as regiões que lhe eram adjacentes, de forma directa ou por assinatura da Adesão iriam pertencer à Índia. Contudo, o Nizam deixou passar a data sem se pronunciar…
De forma activa, o Nizam contratou aquele que seria provavelmente o melhor advogado britânico da época, Sir Walter Monckton (entre os clientes mais distintos de Monckton contava-se Eduardo VIII por ocasião da sua abdicação em 1936). Apesar da sua fama de forreta, neste caso o Nizam não se poupou a despesas e, nesta actividade diplomática junto do establishment britânico, também não se inibiu de cobrar favores que prestara no passado, como era o caso, por exemplo, da fragata Nizam da Marinha Australiana, que fora construída em 1940 e cuja construção fora paga parcialmente por si...
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Tão importante quanto os meios de defesa, e desencorajando a utilização das pressões económicas por parte da Índia independente, Hyderabad era auto-suficiente em termos alimentares e era abastecedor das indústrias indianas em algodão, oleaginosas, carvão e cimento. Em troca, precisava de sal e produtos petrolíferos. E a manobra diplomática protagonizada por Sir Walter Monckton prosseguiu: quando pressionado pelo Vice-Rei, Lord Mountbatten, a aderir à Índia o advogado retorquia que o Nizam podia deixar a sua posição conciliadora – a independência – pela radical – aderir ao Paquistão!...
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Havia um outro ponto fraco que, não o podendo explorar, outros o podiam explorar pelo Congresso: a extrema desigualdade da distribuição das terras (só o Nizam possuía 10% de todas elas!). O agente de pressão nesse caso foram os comunistas do CPI** e uma reforma agrária armada que eles desencadearam baseados na experiência maoista contemporânea da China e em que a grande maioria dos proprietários desapropriados eram muçulmanos. A comunidade muçulmana reagiu com o total apoio do governo do Estado, armou-se e formou milícias (abaixo) designadas pelo nome de Razakars.
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Se a exortação de Mountbatten caiu em ouvidos surdos, a sua saída de cena deixou os indianos, a começar por Vallabhbhai Patel, mais à vontade para o que, na perspectiva deles, tinha que ser feito... A ampla manobra diplomática do Nizam acabara por falhar, os antigos amigos não lhe haviam dado cobertura, o máximo que ele conseguira fora um acordo para a preservação da situação vigente à data da retirada britânica (Standstill Agreement), que fora assinado em Novembro de 1947, mas, para os indianos, esse estatuto excepcional para o Hyderabad não se podia continuar a perpetuar.
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(Continua)
* Para comparação, refira-se que os efectivos portugueses presentes em Goa, Damão e Diu em Dezembro de 1961 não chegavam a 4.000.
** Partido Comunista Indiano.
*** Voltará a ser invocado por ocasião da Terceira Guerra Indo-Paquistanesa e de libertação do Bangladesh (Dezembro de 1971).
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