11 dezembro 2008

REVOLUCIONÁRIOS DE 1975 – 3

Nós gostaríamos que fosse o povo a definir o seu gosto. Mas ele está ainda inorganizado (...) neste interim temos um Ministério que (...) pode assumir essa função de se pronunciar em nome do povo... É uma fase de transição em que um indivíduo tem de ser um pouco ditador… Nós não vamos perguntar as pessoas o que elas querem porque já sabemos que querem Kung Fu e Western Spaghetti. Não lhe vamos dar isso. A arte tem o direito de estar um pouco avançada sobre o processo revolucionário…
As declarações acima são atribuídas a Jorge Correia Jesuíno (acima), oficial da Armada e Ministro da Comunicação Social dos IV e V Governos Provisóriso* (do dois chefiados por Vasco Gonçalves de Março a Setembro de 1975) e responsável por uma proposta legislativa que pretendia criar uma Comissão de Análise**. Deve ter sido um dos momentos altos da semântica revolucionária, em que, eliminada a Comissão de Censura a 25 de Abril de 74, se instauraria um ano depois uma outra, que não censurava, apenas analisava
Na realidade, creio que o PREC se revelava denso demais para a compreensão dos intelectuais estrangeiros que nos visitavam com uma atitude de turista embasbacado, mesmo que os próprios turistas nos deixassem por sua vez embasbacados por se chamarem Jean-Paul Sartre (ao cimo do poste) ou Chico Buarque. Este, ao cantar depois que já murcharam tua festa, pá! (acima), possivelmente desconhecia que entre os participantes na festa havia quem se propusesse analisar as letras das canções, tal qual faziam os generais no BrasilEntre os responsáveis por terem feito murchar a festa dos amigos do Chico, registe-se a curiosidade que Vasco Lourenço, considerado o Capitão de Abril por excelência, não ter participado no 25 de Abril de 1974 (estava nos Açores) e não ser dos que depois aparecem fardados de camuflado a 25 de Novembro de 1975 (acima). Mas deixem-me terminar esta série sobre revolucionários de uma forma fútil, e comentar que o mais impressionante da fotografia é mesmo o mau gosto apartidário do casaco de Marques Júnior. * É muito interessante que, pelo menos nesta biografia, Jorge Correia Jesuíno dê grande destaque à sua (distinta) carreira académica, mal mencione a militar e não faça qualquer referência à sua carreira política, nomeadamente ao cargo de Ministro da Comunicação Social que por duas vezes ocupou…
** Comissão de Análise dos Meios de Comunicação Social de seu nome completo, seria constituída por seis militares e teria por finalidade ajuizar da existência de práticas condenáveis e aplicar sanções pecuniárias.

2 comentários:

  1. Voltando às trajectórias politicas do seu último comentário: Antes de Abril infiltravam-se para tirar a pele aos que por lá andavam, depois de Abril transferiram-se para salvar a própria pele, mas logo a seguir saíram, juntaram-se ao grande coro da Alameda e ainda por lá andam, a tratar bem da pele.
    Quanto à Celeste acrobata, foram várias as cambalhotas e a última sentou-a no edifício "Ceausesco" (Amigao...)ali para os lados da Joao XXI.

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  2. Pois é, JRD, mas o assunto principal destes três últimos postes que escrevi não são as trajectórias políticas, mas sim recordar alguns pequenos "passos" na construção do socialismo e é sobre eles que gostaria de ler comentários, possam ser eles uma outra maneira de ajudar a escrever também "Não Apaguem a Memória..."

    É que a "Memória Apagada" não se circunscreve apenas à recuperação do Forte de Peniche. Note-se como os próprios protagonistas - constate-se pela biografia de Correia Jesuino que "linkei" - de alguns episódios que aqui contei parecem ter sido atacados por uma estranha forma de "amnésia"...

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