31 dezembro 2008

O SÍMBOLO DO COMUNISMO

Há que reconhecer que quase todos os movimentos ideológicos que se reclamaram da herança marxista se apropriaram, como seu símbolo, da foice e do martelo. Tenho para mim, que o que mais próximo existiu daquela sociedade que se reclama socialista e que ainda faz sonhar Odete Santos e os nostálgicos do XVIII Congresso do PCP do Campo Pequeno terá sido a da Alemanha Democrática. Não fosse a devoção iconográfica e creio que o verdadeiro símbolo desse comunismo de confronto e de concorrência com o capitalismo deveria ser o escudo da antiga República Democrática Alemã.
Além do seu martelo operário ao centro, a adição do compasso dá um espaço próprio, mais legítimo, aos intelectuais, superando uma das mais caricatas lacunas dos comunistas, que são obrigados a classificar como operários (no PCP, começa-se pelo exemplo de Jerónimo de Sousa) pessoas que não se aproximaram de uma máquina fabril há vários decénios… Além disso o alinhamento geométrico das espigas de centeio em redor dão ao conjunto a ideia daquele rigor organizativo que os comunistas tanto prezam e que agora se sabe que era muito maior entre os alemães do que entre os russos.
Conhece-se a cerrada disputa entre capitalismo e comunismo que se travou nas fronteiras internas da Alemanha, o desfecho da história, que não terminou bem para os comunistas. Ao contrário do que se costuma pensar, a maior parte dos muros que marcavam as fronteiras internas entre as duas Alemanhas já haviam sido erigidos em 1952, muito antes da construção do famigerado Muro de Berlim, que veio a dividir a cidade em Agosto de 1961. Essa separação física não evitou outras disputas Leste/Oeste que se travaram doutra forma, em pequenas histórias que aqui ainda virei a contar.
Mas o que se torna interessante é como durante aqueles 40 e poucos anos de Guerra-Fria e perante a Europa Ocidental, a Alemanha Democrática – mais do que qualquer outro país da Europa de Leste e muito mais do que a própria URSS – funcionou como uma espécie de montra da sociedade do que aqueles regimes podiam prometer. Se calhar, terá sido por isso que depois de 1989 terá sido implacável a forma como as fraquezas do regime foram denunciadas… Mas depois delas, será preciso ser de uma ingenuidade dialéctica para ainda acreditar que o fiasco do projecto se deveu a erros de implementação

6 comentários:

  1. Em matéria de muros, não sou selectivo, não me agradam, sejam eles quais forem, mas tenho de reconhecer que, tendo em consideração o ângulo escolhido, a fotografia até é agradável e realça a criatividade dos artistas que o pintaram.
    Lamentavelmente, noutras paragens, num dos outros muros ainda (já) de pé. a decoração tem a forma dos buracos das balas.

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  2. Good Bye Lenine, um ilustre testemunho desse tempo que terminou. Aconselho também SOB UM SOL ENGANADOR (ou a ascensão brutal de Estaline) noutro tempo mas também esclarecedor de como se desvia uma utopia para os caminhos da barbárie. Ou ainda HOMO NOVUS ( O Homem Novo) a sociedade soviética pura e dura no final da década de 70. And so ion, and so ion, como diria Lauro Dérmio...

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  3. GOOD BLOG.I DONT KNOW THE LANGUAGE BUT UR LEFTIST SYMBOLS MADE ME HAPPY

    AGHA

    http://low-intensity-conflict-review.blogspot.com/

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  4. Obrigado ARTUR pelas referências cinematográficas que me deste.

    No caso deste poste, especificamente, eu concentrei-me mais em filmes como aquele que citei ou "A Vida dos Outros" (Das Leben der Anderen).

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  5. Pavocavalry:

    A minimum knowledge of the language is, definitely, an advantage in situations like this but, if the sight of those symbols makes you happy, that´s good.

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  6. O lançamento Ponte dos Espioes é um filme bem interessante tratando da guerra fria e da praga que é o nacionalismo.

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