28 dezembro 2008

A EUROPA LOURA E DE OLHOS AZUIS

Os resultados de uma investigação sobre as características genéticas de uma população como a europeia tendem a apresentar-se da forma que se pode observar no mapa abaixo: extremamente confusos. Os vários círculos mostram a distribuição dos Haplogrupos do cromossoma Y humano nos diversos países europeus e, por muito leigos que sejamos, apercebemo-nos facilmente como uma explicação razoável de qual seja o significado daqueles resultados é capaz de ser, não só bastante complexa, como de nos vir a tomar algum tempo…
Ora, recentemente, em vários daqueles artigos científicos de jornal, destinados a não cansar quem os lê, um desses estudos (sobre a população ibérica) foi simplificado para conclusões no estilo foi revelado que 20 por cento da população portuguesa e espanhola são de origem judaica e 11 por cento de origem árabe e berbere, o que foi uma maneira airosa de compactar as muito mais complexas conclusões do artigo original do American Journal of Human Genetics. Quase apetecia dizer que pareciam simplificações para louras, as das anedotas.
É que para escrever artigos sobre genética das populações europeias assim dessa leveza, e mesmo a propósito das louras (mas não as das anedotas), adiciono aqui dois outros mapas da Europa, que parecem mais vocacionados para o estilo noticioso que se pretende nesses artigos. Num (acima) mostra-se a distribuição pela Europa da proporção de indivíduos loiros. Noutro (abaixo), a dos indivíduos com olhos azuis. Trata-se de dois atributos genéticos que intuitivamente associamos e é engraçado verificar se essa associação faz sentido.
Comparem-se os dois mapas e verifique-se como a distribuição da incidência de indivíduos de olhos azuis nem sempre acompanha a distribuição geográfica da incidência dos indivíduos louros, especialmente na Europa Ocidental e Central. Como se vê por este exemplo, até é fácil escrever um artigo científico engraçado sobre a distribuição genética de populações europeias. Agora, é necessário que se escreva, como aqui, sobre temas simples. Quando se tenta simplificar assuntos complexos – foi o caso do estudo da população ibérica – costuma dar asneira…

8 comentários:

  1. Poizé! Cada asneira "científica"... E os estudos em relação à população obesa ou com peso a mais?...Mas escritinhos em inglês, se possível com uma estatística "sofisticada" pelo meio... fazem as delícias de muito boa gente...
    (desculpe... acho que extrapolei...é das rabanadas e do queijo da serra...]

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  2. Esteja à vontade, Maria do Sol, que o abuso não terá começado por si, os artigos (tanto o científico, original, como os outros) são uma fartura de equívocos quando não de erros científicos propriamente ditos.

    Começando pelo artigo científico e pela área que me deixa “menos à vontade”, a da genética, teria gostado que tivessem explicado melhor qual foi a composição da amostra de 174 haplotipos y de “judeus sefarditas com antepassados em países mediterrânicos” usada como referência. É que já aqui neste blogue me referi (http://herdeirodeaecio.blogspot.com/2008/05/terceira-tribo-judaica.html) como as classificações tribais judaicas podem ser muito traiçoeiras…

    Depois, ainda no artigo científico, há um descomunal erro, não do domínio da genética mas da história. A semelhança da distribuição dos haplotipos é um indicador que terá havido migrações populacionais no passado, mas não indica QUANDO é que essas migrações tiveram lugar. Para as conclusões daquele artigo pressupõe-se que ela terá ocorrido exclusivamente durante um determinado período (o romano e o das invasões árabes), mas isso não será necessariamente verdade…

    Por exemplo, alguns dos donos dos haplotipos y “com antepassados em países mediterrânicos” podiam ter vindo para a península ibérica muito antes disso, no último milénio a.C., com as expedições comerciais dos fenícios, dos cartagineses e dos gregos. E uma boa parte do parentesco que se detectou entre as populações peninsulares e as norte-africanas (os tais berberes) podia ter sido estabelecido desde os fluxos de povoamento inicial pelo “Homo Sapiens” há 30.000 anos…

    Claro que tomando apenas esses factores em conta (e há ainda muitas outras hipóteses científicas que se podem colocar) as conclusões do artigo original teriam que ser muito mais cautelosas, e o seu aproveitamento jornalístico tornar-se-ia uma miséria…

    É por isso que é melhor ficarmo-nos pela distribuição de loiros de olhos azuis…

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  3. Muito interessante. Até sei a quem vou recomendar uma leitura atenta.

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  4. Gostei muito de ler o artigo original do "American journal of Human Genetics". Era absolutamente impossível simplificar um estudo desta natureza com uma certa profundidade, para publicar num artigo ligeiro de jornal. Mas, na verdade, é que as percentagens a que eles chegaram (simplificadas)foram muito próximas das publicadas...
    Tu é que és um mocinho muito exigente e sempre dado aos aspectos mais minuciosos e cheio de preciosismos de exactidão.

    E depois as loiras? Lá se lhe vai o neurónio! Tem respeito, por favor. É que o meu já está um pouco gasto. Tenho de o poupar!

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  5. Olha que o “mocinho muito exigente” nem sequer se “esticou” a explicar todos os motivos porque considera que a informação que chegou às pessoas via jornais era um enorme disparate…

    Aí vão mais dois:

    a) o estudo genético incidiu sobre os haplotipos y, que se transmitem exclusivamente por via masculina. Para se afirmar “que 20 por cento da população portuguesa e espanhola são de origem judaica e 11 por cento de origem árabe e berbere”, havia que fazer uma comparação com outros marcadores genéticos que se transmitissem exclusivamente por via feminina. Normalmente, noutros casos em que isso se fez (cito de memória o caso do Brasil e da Índia), obtêm-se distribuições diferentes, sugerindo aquilo que intuitivamente sempre soubemos: a que as migrações são realizadas muito mais pelas populações masculinas.
    b) Os estudos genéticos foram feitos com base em amostras da população. Como tal, em rigor estatístico, os resultados deviam ser apresentados com intervalos de variação e com graus de confiança…

    Ou seja, como dizia alguém meu conhecido numa imagem escatológica, considerando o tratamento informativo dado ao tratamento científico que havia sido dado ao assunto, parece que alguém c… em cima da m….

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  6. Esse teu conhecido é um grande maroto!!!

    Bom e com mais estes esclarecimentos, ainda por cima pejados de palavras difíceis (tenho aqui o dicionário da Porto Editora, na sua 5º edição "muito corrigida e aumentada", cito,e, mesmo assim é uma canseira!
    Desgasta-me o neurónio e depois vais ver os comentários!

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  7. Bem, pesquisa é pesquisa...
    Quanto menos sol tem o lugar, mais loiros são os cabelos e mais claros são os olhos...

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  8. A distribuição segue esse padrão de Norte para Sul mas, se examinarmos o mapa de uma forma mais atenta, não segue apenas esse padrão.

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