29 junho 2008

O MARAVILHOSO EXÉRCITO SUÍÇO

Durante todo o Século XX, incluindo o período da Guerra-Fria, o dispositivo de defesa nacional da Suíça era considerado uma das grandes maravilhas do Mundo. Numa época em que os números eram importantes, a legislação impunha que todos os cidadãos suíços que estivessem em boas condições físicas e que tivessem entre 20 e 50 anos de idade fizessem parte das Forças Armadas suíças, o que fazia com que os seus efectivos atingissem uma ordem de grandeza desproporcionada para a dimensão demográfica do país (10 a 12% da população total).
Normalmente, o período de serviço militar inicial na Suíça era constituído por quatro meses de instrução, em quartel, na forma tradicional como o serviço militar era cumprido nos restantes países europeus, mas seguido de 12 anos nas forças principais da reserva, complementado por mais 18 anos nas reservas secundárias. O que diferenciava o serviço militar suíço dos restantes era o treino e a reciclagem que eram regularmente dadas às forças dos reservistas, incluindo uma semana anual onde era obrigatório que fossem cumpridos exercícios de campo.
Feito da forma tradicional, estas reservas teriam uns custos logísticos proibitivos, mas a solução suíça era uma solução que só teria cabimento na Suíça: era o próprio cidadão que se responsabilizava pela manutenção do seu fardamento, calçado e… armamento. O que quer dizer que qualquer cidadão suíço em idade militar possuía uma arma de guerra em casa (a actual é a SG 550, da imagem abaixo) juntamente com uma caixa de 50 munições reais... Recentemente, desde 2007, deixaram de se distribuir as munições…
Mas todos os países que se quiseram inspirar no exemplo suíço recuaram perante a perspectiva das consequências sociais causadas pelo facto de haver mais de 10% da população a andar legalmente armada – nomeadamente o impacto na taxa de homicídios com armas de fogo… Só Israel – que, afinal, não tinha grande escolha… – acabou por adoptar um sistema semelhante e os dois países compartilham imagens como a de baixo, onde um reservista (neste caso suíço) aguarda pacientemente o seu comboio na sala de espera da estação, de metralhadora a tiracolo…
Historicamente, durante as Guerras Mundiais e procurando preservar a sua neutralidade, a Suíça conseguiu com este dispositivo de defesa nacional responder com uma enorme prontidão tanto em 1914 como em 1940, mobilizando quase 500 000 homens num espaço de dias, a tempo de dissuadir qualquer dos beligerantes, França ou Alemanha, de utilizar o território suíço para atacar o inimigo. Mas, durante a Segunda Guerra Mundial, a Suíça acabou por ficar cercada por territórios controlados pelo Eixo e os alemães chegaram a conceber planos para invadir a Suíça...
Embora se adiantem razões militares para que Adolf Hitler não tenha chegado a accionar esses planos, é muito mais plausível que tenham sido razões de outra ordem (diplomática e económica) a preservar a neutralidade suíça. É que afinal, e apesar das aparências, o excepcional dispositivo de defesa suíço, afastava quase ¼ da população economicamente activa das suas actividades normais, o que só é sustentável pelo espaço de um par de semanas. Foi com essa fraqueza que Israel, mobilizado para se defender dos ataques árabes, se confrontou em Junho de 1967, e que o forçou a desencadear a Guerra dos Seis Dias...

2 comentários:

  1. Para não falar na famosa Marinha Suiça que defende o Lago Léman.

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  2. Não só JRD, não só. Além do Lago Léman, existe uma "Marinha Suíça" com lanchas armadas nos principais lagos que a Suíça ocupa em condomínio com países fronteiriços: no Lago Léman com a França, mas também no Lugano e no Maggiore com a Itália e no Constança com a Alemanha.

    Com o Portugal Colonial isso também aconteceu em Moçambique, onde foi preciso transportar um par de lanchas para o Lago Niassa - que era compartilhado com o Malawi e a Tanzânia.

    http://companhia2fz.blogspot.com/2008/05/lanchas-para-o-niassa.html

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