09 junho 2008

FIASCOS MILITARES PAQUISTANESES

Estava muito abaixo de invejável a situação que se apresentava aos altos responsáveis militares paquistaneses em Dezembro de 1971. Por um lado, as Forças Armadas do Paquistão estavam a travar uma guerra contra–insurreccional de cariz político-militar na província do Paquistão Oriental (abaixo), que se pretendia tornar independente e se sublevara havia nove meses. Por outro, acumulavam-se os indícios que os seus inimigos jurados, as Forças Armadas indianas, que já haviam bloqueado as comunicações por mar e ar entre as duas metades do Paquistão, se estavam agora a preparar para agir militarmente. E as opções tácticas que o Paquistão dispunha não se afiguravam brilhantes…
Valha a verdade que a confusão fora desencadeada pela ala político-militar dos militares paquistaneses. Tinham sido os seus próprios serviços de informações que se haviam convencido que o regime militar podia regressar a um sistema eleitoral democrático e que ele conseguiria gerir os resultados de eleições legislativas. O erro foi tão clamoroso que o partido que obteve a maioria absoluta dos lugares da Câmara Legislativa fora o partido autonomista bengali do Paquistão Oriental, que considerava a sua província colonizada e onde havia uma facção que questionava a própria unidade do estado paquistanês. Os deputados da Câmara foram de facto, eleitos mas a Câmara nunca se veio a reunir…
O cenário era, no mínimo, original: um antigo país, que fora colonizado até 1947, tinha agora o que parecia ser um típico problema colonial entre mãos. A começar pelo da projecção do seu poder militar à distância. É que entre o Paquistão Ocidental e a sua província sublevada intercalavam-se 1 500 km de território indiano e muitas mais milhas de águas territoriais indianas… Além do bloqueio, os indianos haviam já deixado passar o período das monções (Junho a Setembro), quando as chuvas cerradas da época impossibilitariam as operações militares. Em Dezembro, parecia que os indianos se haviam precavido diplomaticamente para poderem iniciar as operações militares em apoio aos rebeldes bengalis.
Da análise da situação táctica, quando vista do ponto de vista paquistanês, obrigaria a que, por falta de reabastecimentos, se travasse uma guerra defensiva na metade Oriental, ao mesmo tempo que se assumiria a iniciativa a Ocidente, buscando ali as vantagens militares que pudessem posteriormente ser trocadas à mesa das negociações com as que iriam ser necessariamente perdidas no Oriente. E é esse carácter compulsório da sua ofensiva que irá, provavelmente, caracterizar a estrondosa derrota das Forças Armadas paquistanesas na sua guerra contra as indianas, entre 3 e 16 de Dezembro de 1971: dois dos maiores fiascos militares tácticos da guerra moderna aconteceram precisamente ali.
No Norte, onde os paquistaneses tentaram conquistar os corredores naturais que ligam a contestada província de Caxemira ao resto da Índia, travaram-se uma data de confrontos de blindados com apoio aéreo, que ficaram conhecidos pelo nome de Batalha de Basantar. No final, os indianos apoderaram-se de cerca de 1.000 km² de território controlado pelos paquistaneses, apesar de terem sofrido apenas 1/8 das perdas materiais do inimigo. No Sul, ainda foi mais humilhante: na Batalha de Longewala, uma companhia indiana de 120 homens, com apoio aéreo, não só deteve como destroçou toda uma brigada blindada paquistanesa que a atacou (2.500 homens, 65 carros de combate, 40 viaturas blindadas, etc.)...
Intercalada entre as Guerras israelo-árabes dos Seis Dias (1967)* e do Yom Kippur (1973), esta Terceira Guerra Indo-Paquistanesa terminou com uma vitória esmagadora dos indianos e foi também, como elas, uma fonte de ensinamentos tácticos sobre as teorias das operações combinadas associando blindados e aviação. Pormenor muito raro na História das Guerras, a dar um cunho de Guerra Civil aos conflitos militares indo-paquistaneses: um oficial paquistanês, o Tenente-Coronel Mohammed Akram Raja, recebeu uma das mais elevadas condecorações paquistanesas** a título póstumo, baseado essencialmente no conteúdo do relatório oficial de operações redigido pelo exército inimigo…
* A guerra começou com um ataque aéreo preemptivo da Força Aérea paquistanesa contra bases da Força Aérea indiana, à semelhança do que Israel fizera contra o Egipto e a Síria em Junho de 1967. O grau de preparação dos indianos é que era diferente e as vantagens militares que o Paquistão recolheu da antecipação também…
** A Hilal-i-Jurat é a segunda condecoração mais importante do Paquistão, representada na fotografia acima.

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