22 junho 2008

UM BOM NÚMERO

Um bom número o do Público deste Domingo, com alguns textos de opinião muito interessantes. A começar pelo de Jorge Almeida Fernandes (P2, p. 8) sobre um livro a publicar proximamente na Polónia (Walesa e os Serviços de Segurança), onde se defende a tese que Lech Wałęsa, o antigo líder do Solidariedade e também antigo Presidente polaco, foi um informador remunerado dos Serviços de Segurança polacos da era comunista (SB) entre 1970 e 1976. Ao contrário do que costuma acontecer em assuntos assim sensíveis, aqui Almeida Fernandes assume as suas dúvidas quanto à veracidade da tese. Trata-se de um assunto que, não sendo muito importante, é bastante interessante.
Contrasta com um outro assunto que, como desconfio que iremos descobrir no futuro e apesar da ampla cobertura mediática actual, não é interessante, nem será importante: o resultado do referendo irlandês. É o assunto principal de uma entrevista a Vítor Martins, antigo Secretário de Estado da Integração Europeia (p.18) e, implicitamente, da tradicional crónica dominical de António Barreto (p. 45), intitulada Estado da União. Assim como se atribui a Luís XV a famosa afirmação Aprés Moi, le Déluge*, tenho notado em certos vultos da nossa esquerda, uma propensão para uma redacção traduzindo uma visão cada vez mais pessimista dos assuntos que abordam.
Na senda de Medina Carreira, que se especializou em escrever artigos sobre a nossa decadência económica e a nossa incompetência financeira que são capazes de nos deixar a chorar, mas incapazes de nos deixar uma pista do sítio onde poderemos encontrar lenços para secar as lágrimas, agora é vez de António Barreto, cada vez com mais frequência, parecer procurar no que escreve (acontece hoje) uma contundência que parece copiada da de Vasco Pulido Valente: isto é tudo uma merda e está-se mesmo a ver que não há solução possível… Há ali trechos em que, agora referindo-se à Europa, parece que Barreto apenas adaptou uma das suas anteriores descrições deprimentes de Portugal**!
E terminando numa outra questão deprimente, cite-se a intervenção do Provedor do Leitor, Joaquim Vieira, (p. 47), dedicada a uma queixa de Maria Teresa Horta a respeito do conteúdo de um artigo que a menciona no Inimigo Público. Independentemente da nobreza da causa feminista que abraçou e da liberdade da escritora ser como é, de há muito me intriga porque, sendo originalmente O Processo das Três Marias, se acaba sempre por ir dar àquela Maria*** de aspecto sombrio, cara amarrada, nenhum sorriso: um alvo ideal para os humoristas! Agora, ao tratar a piada como se uma notícia séria se tratasse (leia-se a carta que enviou ao Director do jornal), Maria Teresa Horta só adiciona o ridículo ao deprimente…

* Depois de Mim, o Dilúvio.
** (…) A cultura europeia é americana. O trabalho é imigrado. A produção é chinesa. O capital estrangeiro. A economia frágil. A ciência dependente. A tecnologia subalterna. A impotência manifesta. Os europeus não querem correr riscos, nem tratam da sua defesa. (…)
*** Da mesma maneira que me intriga como, havendo imensos Capitães de Abril, costuma dar sempre Vasco Lourenço.

3 comentários:

  1. Posso?
    Hilariante! Comecei a entusiasmar-me logo na referência ao Medina Carreira, com a cabeça a dizer que sim, para continuar com o António Barreto a dizer mais que também, seguida da Teresa Horta, é mesmo assim (a cabeça aqui já acenava a uma velocidade considerável) e terminando em apoteose com o capitão de Abril! Se o texto continuava, arranjava-me um torcicolo especial!
    :))

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  2. Que se pode fazer, Maria do Sol?...

    Inspirado no aviso das bebidas alcoólicas, afixa-se no blogue um "seja responsável, concorde com moderação"?

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  3. Um bom número, não haja dúvida. As "suspeitas" sobre Walesa são elas próprias extremamente duvidosas, tendo em conta quem guarda (e manipula) os documentos das secretas polcas antes de 89. O artigo relembra outro caso anterior semelhante que acabou em tribunal.
    As queixas de Maria Teresa Horta parecem elas próprias, vir de um qualquer artigo do Inimigo Público, tão descabidas e patéticas que são. Que eu me lembre, nunca houve reclamações por causa das sátiras desse suplemento. Ao que parece, o sentido de humor não abunda no feminismo militante.

    Ainda nessa edição há um interessante artigo sobre a mesquinhÊs de algumas elites portuenses, mas não sei se é do Local e se por isso só aparece na Edição Porto.

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