17 fevereiro 2019

O INÍCIO DA GUERRA SINO VIETNAMITA

17 de Fevereiro de 1979. Soldados da República Popular da China invadem a República Socialista do Vietname. A invasão tem lugar ao longo de uma alargada frente na fronteira comum de 1.280 km que delimita os dois países. O acontecimento é uma surpresa para as opiniões públicas mundiais, não o é tanto para os círculos diplomáticos informados, que haviam assistido à degeneração acelerada das relações entre os dois países, depois da invasão vietnamita do Camboja em Dezembro de 1978, e com a questão sobre quais haviam sido os propósitos da visita de Deng Xiaoping aos Estados Unidos, duas semanas antes. A ofensiva chinesa ia para além de tudo o que os Estados Unidos haviam ousado fazer durante o longo período de permanência: os Estados Unidos nunca haviam tentado derrubar o regime de Hanói, apenas sustentar o de Saigão. Mas agora fora apenas uma questão de somar dois mais dois. Essa adição (o Camboja e Deng em Washington), tornando previsível qual seria a atitude dos Estados Unidos no conflito, não respondia a quais seriam os objectivos estratégicos da China ao promover aquela invasão, nem garantiam absolutamente o comportamento da União Soviética. Há quarenta anos, havia muitos aspectos interessantes sobre os quais especular.
Ainda hoje, os objectivos da China não são claros. Uma guerra entre duas potências comunistas não é uma guerra como as outras em termos informativos. Não há espaço para a Verdade (acima, um poster de propaganda vietnamita equiparando os chineses de 1979 aos franceses de 1954 e aos americanos de 1975). Tudo o que é narrado, filmado, fotografado, tem de ser conformado pela causa e pela sua propaganda. O valor do espólio que existe a respeito desta guerra pode ser sintetizado pelo poster de cima e pela fotografia de baixo, mostrando os blindados chineses atravancados de infantaria a atravessar um rio numa ponte que havia sido construída pela sua engenharia! Mas a melhor síntese quanto ao seu desfecho provavelmente será a que consta do título do outro livro abaixo: «Uma Guerra que Ninguém Ganhou». Se aceitarmos que a intenção original da China era condicionar o comportamento do Vietname no Camboja, então o desfecho foi uma derrota para a China. Mas, se a intenção original de Beijing era chegar a Hanói e aí instalar um regime que lhe fosse simpático, então tratou-se de uma grande derrota da China. Mas, se por outro lado, o Vietname contasse com o apoio activo dos soviéticos no caso de uma confrontação militar aberta, o comportamento destes últimos foi uma derrota evidente para o Vietname. Fica por descobrir como se comportaria a União Soviética (e, já agora, os Estados Unidos) se os chineses chegassem a Hanói...
Isto do ponto de vista estratégico. Do ponto de vista táctico, porém, dispersada a propaganda, é hoje pacífico constatar a superioridade vietnamita. Estes contavam com a superioridade moral e anímica de estarem a defender o seu país, possuírem uma organização militar testada na prática e possuírem uma superioridade qualitativa quanto ao material, muito dele de origem norte-americana, deixado no país para equipar as forças sul-vietnamitas. Mas tudo isso de nada teria valido se os chineses se tivessem decidido a despejar a sua superioridade numérica no terreno. Um último disparate a respeito é a opinião de que o elevado volume de baixas sofridas terá condicionado a decisão estratégica dos chineses de se conterem: para quem assumira ter sofrido 183.000 mortos na Guerra da Coreia e que naquele conflito virá a assumir uns 8.500 mortos, a explicação não é, nem sequer, tema.

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