04 janeiro 2019

O PERCURSO DISCRETO DA DESCOLONIZAÇÃO ESPANHOLA

4 de Janeiro de 1969. As autoridades marroquinas e espanholas chegavam a acordo em Rabat para a transferência para Marrocos da soberania do pequeno território de Ifni (ver mapa abaixo). Com 1.500 km² e habitado por um pouco mais de 50.000 habitantes, o território fora violentamente disputado dez anos antes (do Outono de 1957 à Primavera de 1958) por espanhóis e marroquinos, no decurso de uma guerra que hoje está esquecida. Se os espanhóis salvaram militarmente as aparências, mais para consumo doméstico do que do ponto de vista estritamente militar, por outro lado, a sua permanência ulterior nas possessões que detinha na fachada atlântica de Marrocos, afigurava-se definitivamente comprometida após o término do protectorado francês em Março de 1956. Aliás, a notícia que o Diário de Lisboa publicava na edição de há cinquenta anos era falsa logo a partir do primeiro parágrafo: «O enclave do Ifni é o primeiro dos territórios administrados pela Espanha, (...) que é reintegrado no território marroquino». Ora o tratado que fora firmado entre Marrocos e a Espanha na sequência da Guerra de 1957-58, o tratado de Angra de Cintra, já se saldara pela cedência por parte da Espanha do território espanhol de Cabo Juby a Marrocos (32.875 km² e uns 10.000 habitantes). Mas essa estava a ser a habilidade do regime franquista no que diz respeito à descolonização, em contraste flagrante com o que acontecia simultaneamente com os seus vizinhos portugueses: ceder em quase tudo, embora dando a aparência contrária. Passada uma decorosa década (para não se dizer que haviam sido corridos), em Ifni a cerimónia simbólica da transferência de soberania iria ter lugar a 30 de Junho de 1969. Ficava por resolver o problema do Sáara Espanhol...

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