18 novembro 2014

SOBRE A IMPORTÂNCIA IMAGINÁRIA OU REAL DA DURAÇÃO DE UMA VOLTA AO MUNDO

Nos tempos em que as obras de Jules Verne eram populares podia-se afirmar que, quem as tivesse lido (ou mesmo talvez tendo apenas visto o filme), saberia seguramente quem tinha sido Phileas Fogg, o excêntrico cavalheiro inglês fleumático que ganhou a aposta de dar uma volta ao mundo em (apenas) 80 dias. Publicada originalmente em formato de folhetim entre Outubro e Dezembro de 1872 no jornal parisiense Le Temps, o protagonista da obra A Volta ao Mundo em 80 dias nunca foi mais nada senão o produto da imaginação de Verne. Em contrapartida, em tempo algum o nome de Elizabeth Cochrane, ou o seu pseudónimo jornalístico de Nellie Bly, chegou a alcançar a notoriedade do de Fogg. Contudo, a jornalista Nellie Bly existiu mesmo e, não tendo sido original (nesta ideia...), teve ao menos o mérito de realizar, dezassete anos depois da simulada por Verne e patrocinada por um jornal nova-iorquino (New York World),...
...uma volta ao mundo semelhante à de Verne, mas completada em 72 dias. O folhetim da proeza – desta vez real – foi também vertido para livro. Mas já não se tratava da mesma coisa. Apesar de Nellie Bly ter feito aquilo que apenas se imagina que Phileas Fogg teria feito, o que a longínqua antecessora de Cândida Pinto realizou não passara de um mero degrau suplementar num indicador adequado para avaliar o progresso técnico e o grau da Globalização: até ao começo da Primeira Guerra Mundial em 1914, vários viajantes trouxeram o record até metade da duração da viagem de Nellie: 36 dias; e depois da guerra, com o desenvolvimento da aviação, a competição acabou por perder o sentido. Quando em 1989 Michael Palin ressuscitou uma série documental de viagens intitulada precisamente A Volta ao Mundo em 80 dias, a duração da mesma tornara-se irrelevante, o prazer residia todo em comentar os locais por onde se passava...

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