21 novembro 2014

A FRANÇA, CADA VEZ MENOS «ETERNA»

Ainda no seguimento da coscuvilhice pela actividade sentimental do presidente francês e do sucesso alcançado pelo livro de Valérie Trierweiler, mencionado mais abaixo, permitam-me reforçar a impressão de que, por causas mais graves que o (in)cumprimento da disciplina orçamental da União Europeia, estão a forçar a França está a deixar de ser a França eterna. Na edição de hoje (21 de Novembro) de uma revista de mexericos denominada Voici, o furo jornalístico (scoop) são as (primeiras!) fotografias de François Hollande com Julie Gayet, a outra que serviu de detonador à vocação literária despeitada de Valérie. As fotografias parecem ter sido sacadas com aquelas tele-objectivas de paparazzi no palácio do Eliseu. Ora a França orgulha-se de ter um património de privacidade dos seus presidentes que é único: que outro país teve um a morrer nos braços da amante, nunca se saberá se mais em flagrante (Félix Faure)? Onde é que é possível que toda a comunicação social se disponha a encobrir durante catorze anos a existência de duas famílias (oficial e oficiosa) à volta de um outro (François Mitterrand)? Ou então tratar com cumplicidade simpática a destreza sexual – cinco minutos, incluindo o duche – de um terceiro (Jacques Chirac)? Uma revista como Voici nada tem a ver com este património imaterial e fotos como as que exibe serão mais uma expressão da descaracterização da França, a tal, verificada nos últimos 40 anos e de que Zemmour se queixa, e que mobiliza cada vez mais eleitores para votar na Frente Nacional. Há que perceber que estes aspectos de como se noticiam assuntos de saias são mais identitários do que ter hispano-suíços naturalizados (Valls) a governar o país: a velha França teve um italiano naturalizado (Mazarino) a governá-la por dezoito(!) anos no Século XVII e hoje isso é um pormenor da História. Mas estas coisas de costumes, quando importadas do outro lado do canal, são graves. Já há muitos franceses a preferirem digerir com um whisky em vez de um calvados ou de um armagnac. E qualquer dia, ainda se considerará grosseiro molhar o pão no café do pequeno-almoço.

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