29 maio 2010

MAIS UMA JORNADA DE LUTA – MAS SEM A PARTICIPAÇÃO DOS BLINDADOS…


Dias como os de hoje são sempre anunciados de forma combativa – Jornadas de Luta! – e o resultado do combate é tradicionalmente previsível, com a vitória do proletariado – a burguesia é vencida por falta de comparência… Neste dia primaveril onde a esquerda radical se começa a congratular antecipadamente por mais uma demonstração do poder dos trabalhadores nas ruas, ocorreu-me voltar a não deixar que Apagassem a Memória! e a evocar outros dias primaveris do passado em que outros trabalhadores também vieram para as ruas lutar…

Diga-se, entretanto, que há uma certa injustiça em que, nestas invocações, se confronte apenas as incoerências dos comunistas, que os bloquistas da outra esquerda radical, com o rebranding por que passaram, parecem ter perdido o seu passado: Francisco Louçã não nos pode esclarecer sobre as conquistas do socialismo albanês; Miguel Portas dissociar-se-á talvez dos excessos da Revolução Cultural chinesa; já Fernando Rosas não nos pode esclarecer sobre algumas passagens mais controversas dos textos de Trotsky e Ana Drago é apenas tonta.

Já os comunistas e o seu partido têm um passado. Remendado, mas têm-no. E têm uma família constituída por partidos irmãos. A maioria dela está muito mal ou no cemitério, mas tiveram-na. E é engraçado recuperar o que é que os membros da família fizeram e o que é que o PCP pensava desses gestos quando confrontado com declarações actuais, como fez recentemente Tomás Vasques… Mas regressemos a essa Primavera em que outros trabalhadores vieram para as ruas protestar (acima) contra uma outra ofensiva contra os direitos dos trabalhadores

A data era 17 de Junho de 1953 e o local, a cidade de Berlim, já dividida administrativamente mas ainda não fisicamente. Mas os trabalhadores contestatários – Oh Surpresa! ­– eram os da metade oriental da cidade, precisamente aquela onde os seus mais legítimos representantes estariam no poder… O Conselho de Ministros do governo comunista da Alemanha Democrática aprovara um pacote de medidas que incluíam um aumento de preços, um aumento de impostos e um aumento nas quotas de produção das empresas públicas – quase todas…
Como se pode observar por este conjunto de fotografias, deu-se mais um daqueles momentos gloriosos do poder de persuasão da dialéctica marxista-leninista, em que o rugir do motor de um T-34/85 é imbatível a esclarecer as massas operárias… Foram mais do que retóricas jornadas de luta: morreram pessoas. Felizmente, e não graças aos vencedores desta jornada de luta, vivemos numa democracia verdadeira. A última vez que os blindados saíram à rua em Lisboa foram para derrubar um regime caduco, não para esclarecer a classe operária…
Convém não esquecer estas coisas...

6 comentários:

  1. Caro

    Diz:

    "Francisco Louçã não nos pode esclarecer sobre as conquistas do socialismo albanês; Miguel Portas dissociar-se-á talvez dos excessos da Revolução Cultural chinesa; já Fernando Rosas não nos pode esclarecer sobre algumas passagens mais controversas dos textos de Trotsky e Ana Drago é apenas tonta."

    Que Ana Drago seja apenas uma tonta, é muito provavelmente verdade. Já as ligações que faz aos compromissos passados de Francisco Louçã, Miguel Portas e Fernando Rosas estão completamente baralhadas. Fernando Rosas é que se dissociar-se-á talvez dos excessos da Revolução Cultural chinesa (embora não esteja tão certo quanto ao "Materialismo dialéctico e materialismo histórico" do camarada Stalin) e Francisco Louçã é que, se quisesse, o que duvido muito, nos poderia esclarecer sobre algumas passagens mais controversas dos textos de Trotsky. Já Miguel Portas é apenas outro tonto que apenas pode ser associado ao pós-estalinimo pós-modernista da Política XXI.

    Manuel

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  2. Creio que o comentador Aduana está certo quanto Às respectivas ligações de cada um (dos 3, só Portas esteve no PCP). Mas em relação ao texto, muito oportuno, poder-se-ia também buscar a repressão aos sindicatos dos estaleiros de Gdansk de inícios dos anos oitenta (afinal, eram metalúrgicos e electricistas); ou confrontar os habituais protestos do PCP a favor de Gaza e contra Israel com a atitude que normalmente têm sobre o Tibete.

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  3. É sempre útil e gratificantes ter leitores e comentadores atentos e bem informados… embora pouco intuitivos quanto à minha tentativa (clamorosamente falhada) de ter sido irónico e de ter deliberadamente misturado todos os protagonistas e os seus percursos ideológicos por forma a explicar o expediente evasivo dos bloquistas quanto precisam de justificar o passado de disparates dos seus mentores e dos seus “paraísos”: remetem para o “vizinho do lado” e, em casos mais complicados, recorrem à Ana Drago que essa não percebe nada de nada.

    A propósito deste caso recordei-me de um daqueles pequenos contos policiais do Padre Brown, de G.K. Chesterton, em que o encadeamento de enganos da testemunha era de tal forma metódico (onde era à esquerda, era à direita, onde era a gaveta de cima, era a de baixo, onde era a caneta, era o lápis, etc.) que o Padre-detective facilmente deduziu que ela sabia a verdade.

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  4. Tristeza! Num tempo em que o capital ataque o trabalho escrevem-se estas tontices. Como se a história actualmente não fosse outra. Ao passado o que é do passado. Hoje jogam-se novas batalhas. Falamos de Portugal e não da URSS. Esses ressentimentos de velhos lutas pouco interessam! Não se esqueçam que fazem o combate pelo o poder socrático com tudo o que isso tem de lastimável!

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  5. Ignorância! Num tempo em que, porque estamos integrados na “Europa civilizada”, na esquerda se está à vontade pela impossibilidade do governo democrático ser derrubado por um qualquer “putsch” militar de direita, só os dessa esquerda que tenham dois dedos de testa é que se conseguem aperceber que o reverso daquela moeda é que também se tornou impossível disputar o poder nas ruas tal qual pareceu acontecer em Portugal em 1975. Não é o caso do comentador acima, a quem lhe sobra em militância o que lhe falta em inteligência.

    Nitidamente, aquele que se assina Tripalio nem sequer terá compreendido o conteúdo ou o sentido do poste. Se quiser, estude e aprenda Tripalio, a começar pela famosa frase do filósofo norte-americano George Santayana: “Aqueles que esquecem o passado estão condenados a repeti-lo". Se não quiser, então não estude nem aprenda. Mas aqui pretendo que se argumente com fundamento e dispensando a explicação das evidências, como a do parágrafo acima. Se não sabe fazer isso como desconfio, Tripalio, então vá travar os seus “combates” políticos para outro lado.

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