Os franceses criaram esta expressão (Egoísmo Sagrado) em meados do Século XIX como sinónimo de patriotismo sem restrições. Acrescentaram-lhe o carácter sacro para propiciar paz de espírito a quem tivesse remorsos por considerar o egoísmo um pecado. Na História podemos ouvir esse egoísmo supremo a ser expresso de outras formas metafóricas (com Salazar, por exemplo, a fórmula era modificada em Tudo pela Nação, nada contra a Nação!) mas a curiosidade do momento é a facilidade como esse egoísmo sagrado desponta à superfície apesar das décadas de doutrinação sobre unidade europeia…
Um jornal tipicamente popular como o Correio da Manhã guarda um espaço de primeira página para o título Cada família paga 534 € à Grécia. E ontem, quando Mário Crespo convidou pela milionésima vez Medina Carreira para mais um programa apocalíptico, ainda deitou ao convidado a isca de o pôr a explicar o racional de pedir dinheiro emprestado para o tornar a emprestar à Grécia. Mas Medina Carreira não a abocanhou e lá continuou a explicar os tradicionais gráficos que, por acaso, nunca incluem as décadas de 1940 e 50, que até foi o período áureo das finanças públicas disciplinadas em Portugal…

Ora o programa de apoio às finanças gregas agora aprovado pela União Europeia cifra-se em 110 mil milhões de euros, o que é mais do quadruplo do valor que Papandreou mencionara… Só nos resta concluir que, ou os gregos não sabem fazer contas, ou são uns aldrabões do caraças… O que pouco importará, a partir do momento em que eles também fazem parte do nosso clube. Há que perceber que se trata de uma abordagem menos primária e mais racional do tal egoísmo sagrado. Há alianças vantajosas a que pertencemos e só os auxiliamos nestas ocasiões porque pretendemos vir a ser auxiliados por sua vez, se nos acontecer a mesma eventualidade¹...

A urgência e rapidez com que se foi a correr ajudar a banca em plano inclinado contrasta agora com a demora (eleições regionais na Alemanha, países em maus lençóis mas à sombra dos media como a Bélgica, etc) e a invenção de todos os expedientes para atrasar , não uma ajuda a aldrabões e caloteiros, mas evitar a perspectiva de crise e enfraquecimento perigoso da moeda única. A inércia europeia neste tema e em política internacional é contrastante com a pressão enorme com que se quis aprovar o Tratado de Lisboa, documento esse destinado a uma maior centralização e rapidez do fenómeno decisório europeu. Não é só o euro que entra em crise, é a própria ideia de Europa que vai ter que ser repensada se quisermos comtinuar a ter uma Comunidade Europeia.
ResponderEliminarMais um exemplo a mostrar que o Tratado de Lisboa, aprovado à pressa, não passa de uma enorme fábrica de "tachos" que, mesmo assim, não resolve o problema do emprego na U. E., para desgosto do bando de políticos desempregados!
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