05 novembro 2008

UM ELOGIO AO VÍRUS, QUE ACABOU UM POUCO INFECTADO…

É uma pena que o programa semanal d´As Escolhas de Marcelo tenha perdido a pouco e pouco aquelas partes encenadas onde se pretendia que se falava de cultura. Então aquela cena dos livros eu achava-a uma verdadeira perdição, com os livros a serem apresentados em catadupa, intervalados de interjeições (- Muito bom!...), enquanto Marcelo os removia da pilha e passava ao seguinte com o mesmo despacho com que o Cozinheiro Sueco dos Marretas convertia muffins em donuts numa receita muito sua que se pode recordar aqui em baixo…
Faz uns anos, ainda o programa de Marcelo Rebelo de Sousa passava na TVI, houve uma altura em que a SIC tentou entrar em competição, ainda que o fizesse de forma dissimulada, com o programa dominical de Marcelo, o grande líder de audiências. O novo programa também aparecia colado ao Telejornal da noite, também era ao fim-de-semana (mas ao Sábado), mas o perfil do potencial rival de Marcelo pouco tinha a ver com o dele, para além do facto deles serem companheiros de partido: tratava-se de José Pacheco Pereira.
Se posso situar o antepassado do estilo de comunicação televisiva de Marcelo em José Hermano Saraiva (acima), exuberante e de um rigor científico mais do que suspeito, tenho muito mais dificuldade em apontar um ou mais antepassados para o estilo, também muito bem sucedido, mas em rigoroso e sisudo, de José Pacheco Pereira. Talvez tenha que recuar mais para os primórdios da história da televisão portuguesa, quando ela era ainda bastante aristocrática, e a popularidade ia para os programas temáticos do Padre Raul Machado (abaixo) ou de António Pedro. Com aquele formato e com aquele protagonista, o programa da SIC destinar-se-ia a uma progressão lenta mas consolidada nas audiências, cativando inicialmente os opinion makers. Mas, simbólico da forma como as avaliações se fazem actualmente na programação televisiva dos canais generalistas, nem garanto que o grande programa informativo da SIC que ia rivalizar com o do Marcelo tenha sido transmitido mais de meia dúzia de vezes… Mas dali fiquei com a impressão que, entregue a si mesmo, José Pacheco Pereira sabia fazer programas interessantes… Um deles é um programa de rádio, que descobri há pouco tempo através da promoção do próprio autor no seu blogue, que se chama Vírus, e que creio que passa diariamente aos dias de semana no Rádio Clube Português, tendo uma duração típica rondando os 4 minutos. Ali, José Pacheco Pereira fala de tudo um pouco, o estilo (claro está!) faz lembrar muito o do Abrupto, embora me pareça que existe uma amplitude temática superior à do blogue e que se ganha animação com a adição da dimensão sonora aos assuntos de que ele trata. Ouçam-se alguns exemplos recentes e interessantes, como este, este, este, este ou este. Como estas coisas são mesmo assim, ao procurar programas recentemente transmitidos para fazer as ligações acima, descubro-lhe no de ontem um daqueles erros de palmatória… É que José Pacheco Pereira resolve falar de um famoso episódio de guerra naval da Segunda Guerra Mundial e acaba por meter água… É que o afundamento do couraçado Bismarck (um navio alemão, acima) de que ele fala ocorreu em Maio de 1941, enquanto o couraçado que ficou encurralado no Uruguai em pleno Atlântico Sul foi outro, foi o Almirante Graf Spee em Dezembro de 1939…

4 comentários:

  1. esqueceu-se de ver a"batalha do
    rio da prata".

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  2. Ou uma "hidroentrada" de quem gosta de surfar na crista da onda, mas que se afunda de vez em quando.

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  3. Caro A.Teixeira, você realmente...

    A exigir rigor e precisão metodológica a quem já tudo sabe, viu e já fez....

    Tss,tss, que mau da sua parte...

    Graf spee, Bismarck são nomes extremamente parecidos e ditos em alemão parecem iguais...

    Se calhar foi apenas uma deficiência fonética dos seus ouvidos e não uma troca de um couraçado por um cruzador...

    Isso é inveja e mau olhado seu.
    Deixe-se disso e não critique o farol cintilante das luzes e letras portuguesas que nos alumia a todos livrando-nos da escuridão terrena e metafísica em que vivemos cativos das nossas pulsões inconscientes...

    Dissidente-x

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  4. Este poste e os comentários que suscitou colocam-me numa posição bizarra. É que o poste pretendia-se elogioso e de promoção àquelas pequenas intervenções radiofónicas de José Pacheco Pereira.

    Mais do que isso, tenho dificuldade em apontar muitos outros nomes que eu imaginasse que conseguissem manter um programa radiofónico diário com aquela frescura e rotatividade de temas.

    Contudo, também tenho que reconhecer que quem tem a imodéstia de se considerar fazendo parte de uma minoria de 1% também tem que contar que os restantes 99% não lhe perdoem quando não está 100% correcto…

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