21 agosto 2008

A MEDALHA DE OURO "PARA PORTUGAL"

Em Linda-a-Velha existe um Centro Comercial que costumo frequentar (Central Parque) que possui um par de enormes ecrãs na área central das esplanadas. Tradicionalmente, não há transmissão de um grande jogo de futebol que não passe naqueles ecrãs, suponho que com o objectivo de atrair público ao centro. Fugindo um pouco à tradição, a direcção do centro decidiu-se mesmo a usá-los para a transmissão dos jogos da selecção nacional de râguebi no Mundial da modalidade que se disputou no ano passado.

Foi inédito, mas sentia-se que na assistência havia muito mais entusiasmo do que propriamente entendimento de quais eram as regras do râguebi, tal qual como acontecia com os jornalistas, o que terá levado a comunicação social a concentrar-se no enaltecimento dos aspectos folclóricos e acessórios dos jogos (como o entusiasmo com que os jogadores portugueses cantavam o hino nacional…) em detrimento de uma apreciação técnica do expectável fraco desempenho da selecção nacional de râguebi durante o torneio.

Hoje fui almoçar ao Central Parque na esperança que, dada a importância do evento, os ecrãs talvez pudessem estar ligados para transmitirem a final olímpica de atletismo do triplo salto, onde participava como favorito a um lugar do topo (um concorrente às tão badaladas medalhas…) o atleta Nelson Évora. Como seria de antecipar, e porventura numa correcta interpretação por parte da direcção do sentimento popular a respeito das variadíssimas e bizarras modalidades olímpicas, os ecrãs estavam gloriosamente apagados…

Estabelecido este simbólico interesse geral sobre os acontecimentos olímpicos, há que fazer a distinção entre o interesse técnico pela modalidade (escasso) e o interesse pelo resultado da competição (geral) que se costuma sintetizar nas perguntas tradicionais: o Nelson Évora ganhou ou não uma medalha? E qual? Na altura que escrevo já se sabe que foi a medalha de ouro. É isso que interessa ao mundo da informação e não será muito difícil prever qual será a notícia de abertura dos telejornais da noite ou como serão os cabeçalhos dos jornais de amanhã…

Porém, o que o público em geral não fez, ao contrário de muitos órgãos da comunicação social com elementos destacados para Pequim, foi terem-se posto a emitir comentários condenatórios do desempenho dos atletas em modalidades nas quais davam a compreender que por detrás das críticas muitas vezes havia a ignorância de nem se saberem os rudimentos das regras da modalidade que o atleta praticava… É que conhecer essas regras sempre nos ajuda a perceber as contingências e a aleatoriedade sempre associadas à qualquer acontecimento desportivo…

Veja-se o caso do futebol, onde todos percebem as regras e onde nem é preciso perder muito tempo em explicações como às vezes a sorte contribui para o resultado porque a bola bate na barra ou no poste e não entra na baliza… Mas é por tudo isso que me causa um incómodo terrível o uso do colectivo na expressão usada nestas ocasiões festivas: Portugal ganhou uma medalha… Não, a verdade é que essa medalha é de Nelson Évora e, por tudo o que aqui foi descrito, creio que lhe assiste o direito de decidir se a quer compartilhar ou não…

Adenda: Esquecida neste poste, convém relembrar que também na blogosfera houve quem se tivesse associado ao ambiente geral, quer na ignorância crítica, quer na comemoração.

2 comentários:

  1. É preciso é haver “bola”, mesmo que seja oval, o resto é uma ova!...

    Apesar de compreender (penso eu de que) o sentido das suas palavras, talvez referisse, antes de todos os “candidatos” à partilha da medalha, o direito do treinador que, ao contrário do que acontece no futebol, é normalmente ignorado.

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  2. Ainda nenhuma medalha foi alcançada pelos belgas, por isso olho com invejo para os resultados de Portugal.
    Parabéns

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