14 agosto 2008

GENTE GIRA

Por muito que se queiram minimizar agora os seus efeitos, a verdade é que durante os últimos anos do apartheid a África do Sul foi votada a um verdadeiro ostracismo - pelo menos desportivo e cultural. Era isso que tornava verdadeiramente raro um filme dessa origem como Funny People (traduzido entre nós para Gente Gira), que não passava de uma sequência de apanhados como os tradicionais dos programas televisivos. Mas, mesmo num filme tão leve e bem disposto como aquele, chegava a ser incómoda pelo excesso de condescendência com que eram tratados os negros em alguns dos gags.

Felizmente, o gag que quero aqui recordar não tinha esse problema. Criava-se uma situação em que um fotógrafo estava a fotografar num local público de grande passagem um manequim feminino cuidadosamente vestido (mas que não se aguentava em pé) e pedia casualmente a um transeunte (a vítima) para o segurar enquanto ia buscar o tripé para a máquina. Quando a vítima já o estava a segurar, havia um cúmplice que, puxando um fio, fazia com que as saias da boneca caíssem, deixando-a numa figura ridícula, de cuequinhas à mostra, enquanto os transeuntes (combinados) se riam a bandeiras despregadas

Mistérios da Psicologia Social, as vítimas tendiam a assumir o ridículo da figura da boneca como coisa sua, e faziam fosse o que fosse para não se sentiram objecto de gozo, nomeadamente tapando as partes pudicas do manequim… Mas o comportamento que achei psicologicamente mais engraçado foi o de uma das vítimas (é a quarta e última a aparecer no gag) que, tentando também abafar a risota que o rodeava, pretendeu que também se ria da situação mas com umas gargalhadas (forçadas) que eram muito mais fortes que todas as da concorrência…

Foi precisamente este tipo de comportamento (se não os consegues calar, então ri-te com mais força que eles…) que me ocorreu hoje quando li a notícia de canto de primeira página do Público que anuncia Amorim troca com Belmiro e já é o mais rico. No seu desenvolvimento fica a saber-se que o ranking foi elaborado por uma outra publicação, a revista Exame, e facilmente se imagina como a restante comunicação social não vai perder esta ocasião para escalpelizar o assunto da falta de sucesso dos negócios de Belmiro de Azevedo neste último ano.
Em vez de tentar abafar o óbvio torna-se preferível que o Público dê destaque aos maus negócios do patrão. Como já deixava antever a classificação da revista internacional Forbes há uns tempos, quando avaliada pelo valor nominal bolsista, a fortuna de Belmiro de Azevedo terá perdido cerca de 42% em relação aos valores do ano anterior o que indicia que os seus problemas transcendem o fiasco que foi a sua operação de aquisição da PT e a consequente azia que Belmiro de Azevedo desenvolveu a respeito de José Sócrates… Há o canudo de José Sócrates mas há quem tenha visto a progressão da sua fortuna este ano por um canudo...

2 comentários:

  1. A vigança do Belmiro foi sendo servida fria, pelo seu copeiro-mor e ex-especialista em cozinha chinesa J.M. Fernandes.
    Só que, pelos vistos, nem o Público, a Novis ou o Continente beneficiaram da iniciativa.
    Os tempos em que o Guterres facilitou, já lá vão e agora as facilidades são outras e os "ricos" também.

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  2. É, eu também acho essa gente muito gira...

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