04 março 2008

A REALIDADE REVOLUCIONÁRIA E A SÍNTESE HISTÓRICA

A quem se interesse por perceber mais aprofundadamente aquilo que aconteceu durante os seis anos iniciais da Revolução Francesa recomendo que compre e leia este O Terror, A Guerra Civil na Revolução Francesa, da autoria de David Andress, publicado na versão portuguesa pela Civilização Editora. Descobri que aquela versão que costuma ser mais divulgada, encadeando a execução de Luís XVI, depois a luta dos Girondinos contra os Jacobinos, mais a trilogia de Danton, Marat e Robespierre, com o triunfo do último seguido da sua execução, é uma simplificação excessiva de tudo o que aconteceu.
Para quem viveu o Processo Revolucionário Em Curso (PREC), é fácil perceber na narrativa de Andress aquela fluidez errática de acontecimentos e de protagonistas, que parece ocorrer sempre numa revolução, mas que depois o distanciamento temporal e a síntese histórica removem das narrativas convencionais. Assim, por exemplo, os clubes políticos não se limitavam aos Girondinos e Jacobinos, havia outras organizações designadas também pelo nome dos conventos que ocupavam, como os Bernardinos ou os Franciscanos (Danton era um destes últimos), como acontecia com as inúmeras organizações revolucionárias do nosso PREC.
Fica-se a saber - outro exemplo - que Marat sofria de psoríase*, uma doença de pele que, em zona exposta, pode dar um aspecto desagradável ao indivíduo afectado, o que pode reflectir-se também no seu relacionamento social, especialmente numa pessoa capaz de despertar tantos ódios, como era o caso de Marat... Sobretudo, e em síntese, reforça-se-me a convicção como estes ambientes revolucionários, podendo ser gerados pela determinação de alguns, só se podem manter por causa da aceitação tácita de uma maioria dos seus intervenientes importantes e, nesse sentido, são de responsabilidade colectiva.

* Dadas as circunstâncias da sua morte – foi assassinado quanto tomava banho – refere-se normalmente que Marat sofria de uma doença de pele que o obrigava a tomar banho frequentemente, mas não se costuma especificar qual.

3 comentários:

  1. O Verão de 75 foi um período um bocado Marat, não foi?

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  2. Um manicómio em auto-gestão, felizmente mmuito menos sangrento que o o manicómio parisiense onde Marat nem teve tempo de perder a cabeça...

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  3. Também entendo que havia por ali gente a mais e gente a menos, digo eu que abomino praças de toiros.
    Já agora, também abundavam as Carlotas Corday, de faca na liga e não só.

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