28 setembro 2007

MONGÓLIA, O PAÍS COM A MENOR DENSIDADE POPULACIONAL DO MUNDO

Quando cheguei à idade de me começar a interessar pela geografia humana, um dos pormenores pitorescos que ainda recordo é que a Mongólia era o único país do mundo que tinha uma densidade populacional inferior a 1 habitante por Km²: nos finais dos anos 60, seriam cerca de 1,2 milhões os habitantes mongóis* num território ligeiramente maior a 1,56 milhões de Km². E havia ainda outros pormenores adicionais que o transformavam num país pitoresco, um dos quais as suas características continentais, que lhe davam um clima de extremos, de calor no Verão, de frio no Inverno. A capital Ulaanbaatar (que, com a capital do Alto Volta, era preciosa para o jogo do Stop, por começar pela letra U…) regista as temperaturas médias anuais mais baixas de todas as capitais do Mundo.
O pavilhão da Mongólia na Expo 98 em Lisboa foi uma enorme desilusão, chupista, a pedir preços impossíveis por qualquer mísero objecto e até tentando sacar dinheiro pela hipótese de se ser fotografado num Ger tipicamente mongol (acima - trata-se de uma tenda móvel também conhecida por Yurt). Devia ser o lado antipático daquele povo a evidenciar-se, o seu lado Gengis Khan, o criador do maior império terrestre contínuo da História da humanidade no Século XIII, um império que rapidamente se veio a fragmentar e a desaparecer, não deixando saudades entre os povos que dele fizeram parte. A sua outra faceta, que despontou depois dessa epopeia, a de um pequeno povo entalado entre dois colossos imperiais (Rússia e China) é muito mais simpática.
Esta Mongólia, formalmente conhecida por Mongólia Exterior, era a Mongólia que coubera à esfera de influência russa. A Mongólia Interior (mapa acima) do lado chinês, que se tornou numa região autónoma da China é ligeiramente menos extensa (1,18 milhões de Km²) mas muito mais povoada (24 milhões de habitantes), embora não por mongóis, que são apenas 4 milhões. Mas é por ter ficado debaixo da esfera de influência do império russo que a Mongólia, que foi berço de Gengis Khan, também se pode gabar de se ter tornado o terceiro estado de operários e camponeses (marxista-leninista) mais antigo do mundo, fundado em 24 de Novembro de 1924**: a República Popular da Mongólia, sob a orientação vanguardista do Partido Revolucionário Popular da Mongólia (PRPM).
Com a China a atravessar um período de desagregação (1911-49), invadida depois pelo Japão em 1931, a Mongólia, embora formalmente independente, nunca teve oportunidade de jogar um papel intermédio entre dois colossos e não passou de uma extensão do império soviético. O idioma mongol abandonou o seu alfabeto próprio para passar a ser escrito em cirílico, como o russo e todas as outras línguas da União Soviética (na Mongólia Interior manteve-se o alfabeto tradicional), e foi em solo mongol, ou nas suas fronteiras com a China que se travaram os grandes embates militares entre russos e japoneses, no princípio e no fim da Segunda Guerra Mundial, como já tive oportunidade de descrever neste blogue (Khalkhin-Gol e Tempestade de Agosto).
Nem a partir de 1949, com a proclamação da República Popular da China, nem depois de 1960, com a assunção às claras das divergências sino-soviéticas, a Mongólia alguma vez hesitou nas suas fidelidades: ao lado de outros líderes vacilantes (especialmente europeus), a ortodoxia de Yumzhagyin Tsedenbal (1916-91) era reputada, parecia ser de betão!... Depois foi a vez da União Soviética entrar em colapso e a Mongólia, por arrasto, também deixar de ser marxista-leninista. Entalada naquele lugar geográfico nada invejável, deve ser um dos raros países do mundo onde George W. Bush fez uma visita (Novembro de 2005) e foi genuinamente bem recebido… Por uma associação de ideias inconfessável, deixem-me apenas dizer que na Mongólia existem alguns dos mais importantes e interessantes depósitos de fósseis de dinossauros de todo o Mundo…

* Actualmente (2007) aproximar-se-ão dos 3 milhões.
** O segundo estado marxista-leninista (1921) mais antigo do Mundo, depois da própria Rússia, foi a remota e (em termos populacionais) pequena República Popular de Tuva, vizinha da Mongólia, também designada por Tanu-Tuva. Veio a ser absorvida pela União Soviética em 1944.

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