25 setembro 2007

THE SKEPTICAL ENVIRONMENTALIST*

Vale a pena começar por dizer que este livro é chato, muito chato mesmo, daquele formato académico aborrecido que se percebe mesmo que quem o escreveu não se preocupou minimamente em ser simpático para o leitor porque assumiu que quem o lê o faz por gosto da matéria ou tem de o fazer por recomendação (further readings…) do professor. Não fosse a controvérsia a ele associada e tê-lo-ia posto imediatamente de parte, em homenagem a todos os outros livros maçudos que fui obrigado a ler com aquele figurino, gráfico pós gráfico, sem uma prosa imaginativa para os amenizar.

Outra coisa é o conteúdo do livro. O autor chama-se Bjǿrn Lomborg, é dinamarquês e teve um percurso académico onde se especializou em Ciência Política até vir depois a leccionar estatística adaptada às Ciências Sociais. A maioria do material contido no livro são, aliás, análises estatísticas apresentadas em séries temporais, que mostram as evoluções dos mais variados indicadores, cujas interpretações apontam para evoluções muito mais conservadoras - quando não as desmentem totalmente… - do que as previsões de degradação acelerada do meio ambiente que costumam ser apresentadas pelos ambientalistas.

E, ao contrário de outras teses revisionistas (como o negacionismo do holocausto), a fundamentação e a interpretação dos dados ali contidos parece perfeitamente sólida e muito difícil de desmontar. Normalmente, na maioria dos assuntos que ali são abordados, as conclusões que dali se extraem atenuam ou mesmo contrariam as teses predominantes que estamos acostumados a ouvir sobre problemas ambientais. A começar pela evidência lapalissiana que raramente ouvimos constatada: nunca a Humanidade gozou, qualitativa e quantitativamente, de tão boas condições de bem-estar…

Será porventura o optimismo implícito contido em tal afirmação (que Lomborg procura demonstrar ser verdadeira) que a torna inimiga dos defensores dos programas políticos que se socorrem dos efeitos de choque do alarmismo para a defesa das suas causas? A verdade é que o que tenho lido sobre as controvérsias associadas a este livro (que só se desencadearam a partir do momento em que ele foi traduzido para inglês, em 2001) se baseiam muito mais na ferocidade cega contida nos ataques (alguns ad hominem) do que na substância da refutação científica da matéria nele contida.

Mas também é verdade que o livro é muito mais do que um mero trabalho de estatística ou mesmo de economia, ainda que sobre um assunto delicado, como Lomborg já tentou argumentar, querendo fazer-se passar por politicamente ingénuo, algo que ele não será, lembremo-nos da sua formação académica de base… Para mim, contudo, a grande revelação deste livro é a descoberta como os modernos problemas do ambiente, ao contrário das disciplinas que lhes estão na base (como a meteorologia…), são do âmbito das Ciências Sociais e como tal são discutidos. Isto para já não falar de quem os leva para os campos da teologia…

Assim, exemplificando e socorrendo-me de um caso recente entre nós, manifesto o meu maior cepticismo sobre a componente científica do debate a respeito dos Organismos Geneticamente Modificados (OGM): tudo o que nele aparecer que se lhe assemelhe, não passará de um argumentário instrumental para reforço das opiniões formadas de antemão….

* O Ambientalista Céptico – o título do poste mantém o da designação do livro, de que não conheço tradução portuguesa.

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