16 julho 2006

A POSIÇÃO EUROPEIA

Depois de ler as censuras de ontem de Vital Moreira à actuação da União Europeia no reacendido conflito israelo-árabe (eu ia escrever palestiniano, mas Israel, por este andar, arrisca-se a acabar em conflito com toda a vizinhança…), seguem-se as censuras de hoje, agora da autoria de Francisco Louçã.

Como acontece quando chega atrasado, Louçã teve de arranjar um discurso de irmão Dupont (eu direi mesmo mais…) e nem chegou a ouvir as tais palavras condenatórias que Vital Moreira censurou por se resumirem apenas a palavras: “a Europa, que tem estado silenciosa, tinha de ter um papel para a defesa e solidariedade com aqueles povos para impedir e parar a guerra".

Passando adiante, como ontem propuz a Vital Moreira, o esclarecimento das formas concretas do papel como Louçã propõe que se impeça e pare a guerra – suspeito que ele poderia ter tido um grande futuro como constitucionalista... – tenho de vos confessar a minha saturação por estas evocações repetidas, desnecessárias e descabidas a essa figura mítica das relações internacionais chamada União Europeia.

Composta por 25 aparelhos diplomáticos distintos, onde os três ou quatro mais poderosos têm normalmente posições subtilmente distintas uns dos outros a propósito de quase tudo, a política externa da União é felizmente representada por alguém (Javier Solana) que, com o seu permanente sorriso, parece encarar essa situação – que normalmente descamba em impasses - com alguma bonomia. O que conta são as políticas externas da Alemanha, do Reino Unido ou da França, da Itália, que as exprimem separadamente, como se pode observar aliás na actual cimeira do G8.

Vital Moreira e Francisco Louçã até podem ser uns sonhadores, que sonhem com o dia em que a política externa europeia seja concertada, mas não serão sonhadores desatentos da realidade que os rodeia e que lhes mostra que, nestes assuntos sérios, a União normalmente prefere não ter posição, para não ter posições contraditórias. Evocá-la é, no mínimo, ingénuo senão desonesto, porque a posição da União Europeia é tão concreta e ainda menos concertada do que a da Branca de Neve e dos sete anões…

2 comentários:

  1. Exactamente. O facto de não haver uma política externa comum nem consertada é um argumento que se costuma usar a favor de uma união europeia política, para além de económica. Mais uma vez, e eu não seria uma boa constitucionalista, naõ sei como será isso possível...

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  2. Muito simplesmente... não é!
    Por isso é que a Constituição Europeia não "passarou" nem passará, como se "graffitava" do fascismo "in illo tempore"!!!

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