17 julho 2006

CARTEL DO SAL

É de saudar, simultaneamente, tanto a máquina comunicacional que tem sido eficaz no destaque dado às decisões da Autoridade da Concorrência (AdC), como o próprio organismo em si, pelas decisões que ultimamente tem emitido. A última a ser anunciada penaliza com uma multa de 910 mil euros um conjunto de quatro empresas pela formação de um cartel que regulou durante anos em Portugal o preço praticado pela venda do sal.

Para além da bondade que se extrai directamente da actividade da AdC, considero haver uma outra, colateral, porque as suas decisões, estritamente do âmbito técnico, demonstram na prática e repetidamente como são ideológicas e, muitas vezes, demagógicas, embora disfarçadas de técnicas, as teses, disfarçadas de regras de funcionamento do mercado, apresentadas pelos defensores mais entusiasmados, mas também mais canhestros, do liberalismo.

Como o determinismo histórico do marxismo de outros tempos, que garantidamente conduziria inevitavelmente todas as sociedades para o socialismo, também os mercados agora reagem e se ajustam automática e indubitavelmente às quaisquer novas condições, sempre para benefício geral de todos os seus intervenientes. Parece ser sina de cada era a existência destes mitos, sempre apresentados como certezas e com todo o zelo pelos propagandistas da fé, seja ela qual for.

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