01 fevereiro 2006

PSICANÁLISE PARA NÓS TODOS

Este livro de Lucky Luke, de título original La Guérison des Dalton, já o teve traduzido em português para Os Dalton e o Psicanalista e Psicanálise para os Dalton, que considero preferível.

Sinteticamente, trata-se da história de um reputado professor vienense que, anos antes de Freud, vem aos Estados Unidos apresentar a sua teoria de que todos devemos a nossa conduta adulta aos acontecimentos da nossa infância. Mais do que isso, a conduta dos criminosos pode ser alterada se se conhecer o problema infantil que está na origem do comportamento de adulto.

Para o provar, precisa de testar a sua teoria em criminosos comprovados que estejam presos. E para isso precisa de uma autorização do Senado norte-americana que lhe é concedida. As cobaias hão-de ser os irmãos Dalton, mas não vale a pena estragar o resto da história contando-a.

Enquanto se procedia à selecção das cobaias, são apresentados ao professor quatro reclusos, três dos quais façanhudos, com um cadastro arrepiante mas com penas desproporcionadamente leves para o palmarés, enquanto que o quarto, com um ar travesso, por ter roubado um cavalo tinha sido condenado a prisão perpétua.

Quando lhe perguntaram se estaria interessado em algum deles como objecto para a sua experiência, o professor respondeu que não mas, em contrapartida, estaria imensamente interessado nos juízes que os haviam condenado.

Subversiva e arrasadora como só Goscinny as sabia escrever, esta cena faz lembrar a posição da nossa sociedade diante do estado actual da justiça portuguesa. Por muito que isso repugne a um clã profissional que esteve sempre habituado a considerar-se acima de qualquer julgamento por parte dos seus concidadãos a quem, invocam, faltam sempre os conhecimentos necessários para os poder julgar com propriedade, os denominados agentes da justiça, que são diversos, acabaram por se deixarem escorregar, sem excepção, para uma condição de medíocres incompetentes.

O que tem de ser uma tremenda injustiça. Deve haver umas boas dezenas de milhar de intervenientes no sistema judicial. É do mais elementar bom senso considerar que a mediocridade não se pode concentrar dessa forma.

Mas as apreciações são feitas dos símbolos. Que decididamente não se promovem com as intervenções públicas do Presidente do Supremo Tribunal ou dos empenhados dirigentes sindicais de juízes e procuradores ou, muito mais acessoriamente, do esforço dos bloggers do clã, onde, num dos casos mais visíveis e risíveis, o erudito abusa, na sua cruzada, da eloquência em detrimento da inteligência que lhe falta. Ou da interminável novela do senhor Procurador-Geral.

Entre os outros (os tais de fora a quem, alegadamente, os de dentro nunca vêm categoria para se pronunciarem), só os mais frios ainda aceitam que a justiça seja falível, porque humana. Não aceitam é que seja facciosa. E ninguém aceita é que seja isto.