18 fevereiro 2006

MISS COIMBRA

Um dos insondáveis mistérios do universo é que permanecem as razões para que os programas envolvendo crianças serem normalmente tão maus. Então, quando se atinge o clímax daqueles feitos pelos amadores, deliciados pais das referidas crianças - Já viste o Joãozinho na última festa de natal? E a Catarina a tocar piano na última récita? – as coisas podem tornar-se mesmo dramaticamente perigosas.

Já pensei apelar à Amnistia Internacional para que promova uma campanha para uma adenda à Convenção de Genebra para o tratamento dos prisioneiros de guerra – que outra coisa são os convidados na sala de estar, diante da TV? – proibindo tais práticas.

Já os programas realizados por profissionais, não tendo o grau de perigosidade específica dos anteriores, multiplicam-no pelo facto de serem emitidos e entrarem pelos lares incautos sem pré-aviso. Um figurino clássico é o de uma parelha de apresentadores juvenis, com uma atitude forçadamente jovial, tratando tudo por tu, complementados por uma turba de putos que grita às ordens de o fazer, mas sem saber porquê.

A minha cena síntese de um programa desses é a de um puto, participante num desses programas da Disney, que, diante de um microfone, entre o intimidado e o aparvalhado, ao perguntar-se-lhe se gostava mais do Mickey ou do Pateta, responde: Sim

Foi nos traumas infantis causados por programas do género que pensei quando li, no Público de ontem, 17 de Fevereiro (p. 17), a resposta síntese de um senhor que é Coordenador-do-Observatório-dos-Poderes-Locais-do-Centro-de-Estudos-Sociais-de-Coimbra às perguntas relacionadas com o processo de reordenamento das freguesias, que irá passar, certamente, pela extinção de muitas.

O senhor, Fernando Ruivo de seu nome, quando inquirido sobre se concordaria ou não com a extinção ou a fusão de freguesias, teve uma resposta que a jornalista sintetizou assim: Preferia o repovoamento em vez de acabar com as freguesias. Embora não tenha adiantado uma palavra concreta sobre a forma de conseguir o tal repovoamento.

Ora, deve ter sido mesmo para isso que o jornal foi escutar os aparentes especialistas da matéria, para que eles digam quais são as suas preferências, numa espécie de recuperação do saudoso programa Quando o telefone toca, mas mais reservado a especialistas…

Agora a sério, já, de há muito, se tornaram famosas as vacuidades proferidas pelas candidatas nos concursos de Misses. Então a opinião de que deveria haver paz no mundo era um must do discurso, até se tornar um gag num filme de Hollywwod (com a Sandra Bullock). O Dr. Fernando Ruivo, o tal Coordenador-do-título-comprido-de-Coimbra, não está a pensar candidatar-se a Miss, pois não?