21 fevereiro 2006

ÓLEO DE PEROBA

Eu não consideraria a tolerância como uma característica portuguesa. Aquilo que gostamos de descrever como tolerância é algo próximo da cobardia. Uma coisa será evitar-se os confrontos em sociedade, uma outra coisa são os extremos de passividade a que costumamos chegar para os procurar evitar.

Quem protesta, quem reclama, tem, frequentemente, que se defrontar não só com o destinatário óbvio da reclamação, mas com a hostilidade calada de quase toda a assistência que, antes da injustiça manifesta, condena sobretudo a fita de quem está a protestar.

Entre os preços que pagamos todos por este comportamento social conta-se a qualidade no atendimento em todos os locais de contacto com o público, onde quaisquer bocas, a maioria das vezes justificadas, se calam numa fracção de segundo com o convite para preencher o livro de reclamações.

Aí ninguém se atravessa e, mesmo quando alguém o faz, aparece subitamente e sempre alguém mais moderado, vindo do outro lado do balcão, a convidar o contestatário à ponderação para não se estragar a vida ao rapaz

Aprendi recentemente de um amigo que, à deliciosa expressão tropical cara de pau, se pode adicionar o requinte de dar-lhe óleo de peroba, para puxar o lustro à madeira, num capricho de desplante.

Estas expressões não se inventam, nem se criam, aparecem, donde concluí que, pelo menos naquele aspecto, já se havia cumprido a profecia da música de Chico Buarque e que aquela terra tinha cumprido seu ideal, tinha se tornado um imenso Portugal… Pudera, com o que se lá vai passando a propósito do mensalão...

Um bom cara de pau só prospera nas nossas sociedades porque elas são cobardes como são. Ainda hoje e só hoje, 21 de Fevereiro, a Fátima Felgueiras aparece como convidada num programa da SIC e Isaltino, respondendo ao Público, desvaloriza moção que pede suspensão do (seu) mandato.

Nem falta dizerem como o outro, que prometeu andar por aí, fazem-no. Parafraseando o meu amigo: é dar-lhe óleo de peroba!!!