23 setembro 2013

A «ABORDAGEM KEITEL» À RESOLUÇÃO DOS PROBLEMAS

Wilhelm Keitel (1882-1946) foi um dos Marechais alemães da Segunda Guerra Mundial, um dos poucos para quem a História e a apreciação dos seus pares não foi propriamente generosa. A justificá-lo o facto de ter passado quase todo o conflito no OKW, junto de Adolf Hitler, adoptando um comportamento que não se distinguiu muito de um cortesão. Só no final da Guerra é que a guerra veio ter com Keitel, por ocasião da ofensiva soviética final sobre Berlim, em Abril de 1945. É então, quando tudo se está a desmoronar, que se trava um dos mais interessantes e vivos diálogos entre um comandante conhecedor das frentes de batalha, o General Gotthard Heinrici (1886-1971) e o Marechal Wilhelm Keitel, quando este pretendia ordenar àquele que atacasse os russos para romper o cerco à cidade:
O seu dever para com o Führer… – ameaçava Keitel.
O meu dever para com os meus soldados… – interrompia insolentemente Heinrici com uma coragem aumentada pela desagregação da situação.
Não se estaria aqui, se fizesse como os outros generais, se fuzilasse, se enforcasse…
Esteja à vontade: - e com isto, Heinrici apontava para mais uma leva de refugiados que passava ao lado do sítio onde discutiam, onde alguns desertores procuravam passar dissimulados – Fuzile! Enforque!..
Mas, em vez disso, Keitel destituiu Heinrici do comando, prometendo-lhe um tribunal marcial que nunca chegou a ter lugar. Uma típica não solução, porque os soldados até aí comandados por Heinrici continuaram a recuar diante dos russos e com eles, Keitel fez o mesmo, que um Marechal sem tropas também não é nada.
Quando leio pela enésima vez Camilo Lourenço a escrever que é preciso diminuir a despesa do Estado isto faz-me lembrar as convicções de Keitel, que sabia o que havia a fazer mas não se dispunha a – ou não tinha coragem de – concretizá-las ele próprio. Mais de dois anos passados após a tomada de posse de Pedro Passos Coelho, Camilo Lourenço já devia ter compreendido que, e mesmo que eu tenha muitas recriminações a fazer à condução política e financeira do Primeiro-Ministro e de Vítor Gaspar, não se os pode acusar de falta de empenho, sintoma de que a diminuição da despesa do Estado no ritmo e na escala que os que estão de fora preconizam é certamente uma coisa muito mais difícil de concretizar do que os bombachos de opinião¹ preconizados por Camilo Lourenço. Mais do que isso, e tal como acontecia com os soldados foragidos que Keitel pretendia que fosse o outro a mandar executar, também já se percebeu que a abstracção da diminuição das despesas se concretiza afinal em pessoas, como os pensionistas que se perspectiva venham a perder pelo menos 10% das suas pensões. Martim Avillez Figueiredo também achava muita coisa desta até que, quando à frente do jornal i, lhe impuseram que fosse ele a diminuir a despesa dentro de portas... Pior do que Keitel, Martim demitiu-se e passou a ser muito mais moderado no que escreve desde então. Vai sendo tempo de entregar um cargo de responsabilidade a Camilo Lourenço para que também ele se aperceba do quanto custa implementar aquilo que se proclama e nos deixe de chatear com as suas opiniões inconsequentes de uma vez por todas.

¹ Bombachos são umas calças largas aqui figurativamente apropriadas para acomodar os tomates de quem pretende estar a exprimir opiniões sempre muito corajosas.

1 comentário:

  1. No meu tempo do IST dizia-se que quem sabe ser engenheiro faz, quem não sabe vai para professor.
    Pode haver aqui alguma injustiça, até porque alguns acumulavam mas o Camilo Lourenço não acumula, apenas perora po aí na TVI e similares...
    Também se aplica o velho ditado "Bem prega frei Tomás faz o que ele diz, não faças o que faz".

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