04 setembro 2010

É FUTEBOL, NINGUÉM LEVA A MAL

Rui Barros foi um avançado português que se notabilizou ao serviço do FC Porto, muito embora eu o recorde não pelos golos que marcou, mas pelos que ele perdeu no jogo da 1ª mão da Supertaça de 1987 contra o Ajax em que, graças a ele, o Porto acabou por vencer apenas por 1-0. Depois disso, com aquele jeito que o clube tem para promover os seus jogadores, Rui Barros foi jogar para o estrangeiro durante 6 anos, por 3 equipas diferentes (acima, quando estava na Juventus). Pessoalmente, Rui Barros, de baixa estatura (1,59m), transmitia a imagem de um daqueles portuguesinhos típicos de origem rural – um rústico na imortal classificação de António Almeida que consta no cabeçalho deste blogue.
Mas era um daqueles rústicos simpáticos, despretensiosos, nada parecidos com algumas estrelas do nosso futebol actual. O que só torna mais penoso o tratamento que lhe deu certo dia Herman José num dos seus programas matinais. Imitando-lhe o seu sotaque identificativo, Herman simulou que lhe fazia uma entrevista radiofónica em que se evidenciava a fragilidade intelectual do pretenso Rui Barros. Que terminava perguntando-lhe porque é que as pessoas do futebol só falavam de futebol. Rui Barros respondia que isso acontecia porque só lhes faziam perguntas de futebol. Para variar, Herman perguntava-lhe então o que achava ele da questão envolvendo Andreas Papandreou (1º Ministro grego à época)?
- Ah, isso eu acho que vai ser Andreas dois Papandreou zero… Além do óbvio, esta resposta também marcava, em meados da década de 90, a percepção social do que era a fronteira entre o futebol e o Mundo a sério. Aqueles que pertenciam ao mundo do primeiro não se imiscuíam no resto. Ainda hoje, intelectuais da bola como o Dr. Rui Santos ou a novel esperança do futebol científico Luís Freitas Lobo estarão interditos de poder expressar o que pensarão de Barack Obama ou sobre energias renováveis, enquanto, para a desgraça maior do jornalismo português, intelectuais de porra nenhuma como Ricardo Costa ou Eduardo Dâmaso parecem dispor de um livre-trânsito para as asneiras pluridisciplinares.
Mas o que eu queria realmente destacar com esta história, é a esta nova atitude que terá começado há uns dez anos atrás, em que se tornou moda que as pessoas, que até cultivam uma imagem de siso nos seus ramos de actividade, assumam uma espécie de desdobramento de personalidade que as faça possuir um alter ego para quando se trata de assuntos relacionados com futebol. Exemplos disso podem ser o cantinho do hooligan de Francisco José Viegas ou pode ser um texto exaltado pedindo cabeças do normalmente dissimulado Medeiros Ferreira ou um plácido amigo meu do PSD que se consola das (suas) vicissitudes políticas com o facto do Benfica ter sido campeão! Falta-me a pachorra para aquela pose!

3 comentários:

  1. Uns escrevem colunas desportivas tendo capacidade para outros assuntos mais importantes para poderem pagar o colégio privado dos filhos (ou dívidas da batota). Outros perceberam o filão do comentário futebolístico para a promoção da imagem. O fenómeno "futebol" dá votos, protagonismo e, em última análise, torna-se uma solução de recurso para promover o ego. Que dizer de tudo isto? Que vivemos numa comunidade saloia, aldeã, labrega, limitada e absurda, onde a guerra é encontrar todas as nesgas de popularidade e "aparecer". Que se f.. o resto.

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  2. Pois. Há os "sanguessugas da bola", onde incluo muitos comentadores e jornalistas. Atrevem a indignações e palpites definitivos sem saberem do que estão a falar. Julgam que aplicar meia dúzia de raciocínios gerais ao desporto chega para o interpretar e compreender e ter em conta as exigências das suas particularidades. A maior parte das vezes só dizem asneiras, mas como a ignorância é atrevida, fazem-no com uma pose tal que, para distraídos, pode parecer coisa para levar a sério. E pagam-lhes!

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