Que me desculpem a generalização, mas formei a opinião que a ignorância dos brasileiros sobre história medieval é tão grande quanto as expressões de admiração que emitem quando visitam os monumentos daquela mesma época. Ainda recentemente, perante uma audiência de três médicos especialistas, pessoas portanto com formação superior e complementar, nenhum deles fazia a mínima ideia da história do Robin dos Bosques, e muito menos quem fora Ricardo Coração de Leão, João Sem Terra ou o que é que haviam sido as Cruzadas…
Mas a interveniente relevante para esta minha história tinha muito menos pretensões culturais do que aqueles três médicos, viera à Europa numa daquelas visitas em que, pelo menos nas histórias das novelas brasileiras, parece que se adquire uma espécie cultura europeia da mesma forma que se adquire um bronzeado depois de uma quinzena no Algarve… A realidade costuma ser mais difícil que a ficção e, de regresso a Portugal, depois do seu tour europeu, faltava à turista vocabulário para conseguir descrever todas as maravilhas que vira em França e na Itália.
Um desses problemas surgiu a propósito da designação dos fossos que cercam o castelo:
– … aquela coisa à volta do castelo… – dizia ela de forma hesitante, procurando encontrar uma definição mais precisa.
– Um fosso? – sugeriu alguém.
– Isso! Um poço!
Seguiu-se um momento de silêncio, rompido pela continuação da narrativa e pelos pensamentos de quem constatava que a narradora ignorava completamente qual era a diferença entre uma coisa e outra…
Mudando radicalmente de assunto, eu não tenho, embora também não me incomode muito não ter, acesso televisivo ao novo canal de notícias TVI24. Por isso, não presenciei o diálogo que irei adiante descrever, embora tenha a pessoa que o faz em conta de verdadeira. Será um dos extremos do facciosismo pró-governamental na blogosfera, mas Miguel Abrantes não costuma inventar, o que me leva a aceitar como válido o seguinte diálogo que terá sido travado entre a jornalista Constança Cunha e Sá e Luís Campos e Cunha num programa da TVI24:
– O Estado já meteu 140 milhões no BPN…
– É um bocado mais… – precisou Luís Campos e Cunha.
– Pois, é isso, 140 mil milhões.
Note-se a coincidência entre este último comentário de Constança Cunha e Sá e o que havia sido produzida pela turista brasileira a propósito da arquitectura militar medieval… Ambas são o resultado da ignorância mais profunda sobre o tema de que estão a falar* mas há que reconhecer que, no computo global, a comparação favorece o Brasil: não estava a falar enquanto profissional, não estava a falar para um auditório e não estava a posar…* 140 milhões de euros (28 milhões de contos segundo a antiga moeda) são um montante do âmbito da microeconomia, embora se refira já a uma empresa de dimensões apreciáveis. 140 mil milhões de euros (mil vezes mais que o anterior) já se trata de um montante que se aplica à macroeconomia, descrevendo o PIB de um país com a dimensão de Portugal, que é de cerca de 170 mil milhões de euros. Se o primeiro peca por defeito, ou segundo peca, e muito, por excesso.
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