Há cerca de uns 25 anos, talvez mais, por ocasião da exibição do filme numa ocasião especial, salvo erro na Cinemateca, fiquei a saber que O Triunfo da Vontade (Triumph des Willens) de 1935 e da autoria da realizadora alemã Leni Riefenstahl, era um filme de exibição restrita por causa do seu conteúdo. O tema do filme, que é um documentário com quase duas horas, foi a cobertura do Congresso de Nuremberga do NSDAP em 1934, filmado através de umas lentes ideologicamente muito favoráveis para os nazis e as restrições postas à exibição do filme eram justificadas pelo efeito que aquela propaganda (tecnicamente bem feita) poderia ter sobre as audiências…
O que me incomodou – para não dizer que indignou – foi o tratamento condescendente ao auditório que estava implícito naquela justificação. Que o tempo e a evolução das tecnologias se encarregaram de tornar ridícula: hoje, o tal filme restrito porque glorificava o nazismo, está disponível no Youtube à distância de um clique… Mas essas facilidades não querem dizer que a escola daqueles que preferem proteger a audiência da influência nociva da propaganda adversa tenha desaparecido. Agora, logo depois da propaganda adversa aparecer, ela sofre um processo de interpretação. Nunca terá havido tantos comentadores na imprensa para nos explicar aquilo que devemos pensar…
É por mais isso que há que elogiar a forma independente como a equipa associada à produção do documentário A Guerra fez terminar o episódio que foi ontem transmitido na RTP, onde usou uma compilação de imagens das cerimónias do 10 de Junho, mais a imposição de condecorações a título póstumo. Como peça de propaganda esteve lá tudo, desde os olhares dos familiares que receberam as medalhas pelos que morreram até à lágrima que cai na lapela ao lado da condecoração acabada de receber (abaixo). Passaram as cenas em bruto, tal qual foram transmitidas na altura, sem manual de instruções por cima das imagens, e foi reconfortante sermos tratados como pessoas inteligentes…
O problema dos "fabricantes de opiniões" é chegar primeiro e interpretar rapidamente para se denominarem iluminados... ou justificar o dinheiro que ganham. Tudo aquilo que lhes escape ao controle é "duvidoso", "nocivo" ou até "perigoso".A grande dificuldade de sempre para todos os "espertos" apressados, muito à frente do colectivo é a da confrontação directa com a realidade nua e crua. As imagens das comemorações do 10 de Junho são precisamente fortes por não terem sido alvo de manipulação ou interpretações iluminadas. Pura e simplesmente, foram.Era assim, foi assim.
ResponderEliminarArtur, a interpretação das imagens não foram alvo de manipulação, mas as imagens foram-no.
ResponderEliminarAquela lágrima que caiu na lapela ao lado da condecoração aos 0:56 no vídeo de baixo, foi um instantâneo de sorte do realizador da RTP mas, como saberás, a Leni Riefenstahl não deixou nada ao acaso: o seu filme representa menos de 1/25 de todo o material filmado, porque ela usava dezenas de câmaras a filmar em simultâneo os acontecimentos.
Agora, creio que estaremos de acordo que dispensamos qualquer "maduro" que se auto-nomeie para nos "proteger" da influência "perniciosa" dessas imagens.
"Ce n'est pas une image juste. C'est juste une image"
ResponderEliminarJean-Luc Godard
As imagens não são a realidade mas reflexos por onde ela se pode ler.
Artur
Parece que ainda continuamos com certo medo de contariar certos "ilumindaos".
ResponderEliminarAquele trsite espctáculo do "Prós e Contras" em ninguém pôde (ou pode) dizer mal do clã Dos Santos.
Ou este estória de quererem impedir o museu do Salazar.