06 fevereiro 2009

OS EXOPLANETAS

Exoplaneta é a designação escolhida para os planetas que têm vindo a ser descobertos orbitando estrelas que não o nosso Sol. Trata-se de um campo científico em ampla expansão. O primeiro planeta extra-solar descoberto a orbitar uma estrela e confirmado para além de quaisquer dúvidas científicas aconteceu apenas em 1995 (*), mas actualmente os exoplanetas recenseados já são bem mais de 300 (**), mostrando-se um campo de exploração científica que está em franca expansão. Nos dois últimos anos foram sendo descobertos novos exoplanetas a um ritmo médio de cerca de cinco por mês (ver abaixo) e este campo de investigação não parece ter sido atingido pela crise porque já foram descobertos quatro novos exoplanetas desde o princípio de 2009.
Há vários processos para detectar planetas orbitando as estrelas adjacentes. Explicar como funcionam fica um pouco para além daquilo que considero relevante para um poste informativo sobre o assunto (***). Contudo, vale a pena saber que uma consequência dos processos empregues fazem com sejam detectados primordialmente: a) os planetas maiores e b) os planetas que possuem órbitas mais próximas das suas estrelas. Há por isso a consciência que a lista crescente de exoplanetas descobertos não é uma amostra verdadeiramente representativa do que pode ser a população de planetas do Universo. Mesmo assim, tudo o que tem vindo a ser descoberto tem servido para embaraçar, por limitada, a imaginação dos escritores de ficção científica.
É evidente que os exoplanetas aproveitáveis para as aventuras do Capitão Kirk (acima) teriam que ser todos de características semelhantes às terrestres, com atmosfera respirável e até mesmo com uma gravidade superficial que fosse idêntica à nossa... No entanto, nem mesmo a ficção científica literária (que não tinha esses constrangimentos orçamentais…), pôde antecipar a variedade e o exotismo do que tem vindo a ser as descobertas neste campo. Convém dizer que, ao contrário do que acontecia na ficção científica, os exoplanetas têm designações extremamente analíticas – HD 7924b é um exemplo, a do último a ser descoberto – completamente desprovidas da poesia de um nome como Vulcano, para quem ainda se lembra, o planeta de origem de Mr. Spock (abaixo)…
É improvável que qualquer exoplaneta venha a ser visitado ainda neste século. O mais próximo até agora descoberto é um gigante gasoso (Épsilon Eridani b) um pouco mais maciço que Júpiter que está situado a cerca de 10 anos-luz da Terra, e que orbita a sua estrela a uma distância intermédia entre o que seriam as órbitas de Marte e de Júpiter no nosso sistema solar demorando cerca de 7 anos a completar cada órbita. Mas este é um exoplaneta de que se estaria à espera de encontrar, tomando em conta a única referência de que se dispunha: o Sistema Solar. Já o que não se estaria à espera – no nosso caso, Mercúrio demora 88 dias a completar uma órbita à volta do Sol – era encontrar planetas que descrevessem órbitas tão próximas das suas estrelas...
O planeta (estando ainda por confirmar a descoberta) que descreve a sua órbita à volta da sua estrela no período mais breve chama-se Sweeps-10, localiza-se a cerca de 22.000 anos-luz de distância e o seu equivalente ao nosso ano dura… 10 horas. A estrela é uma Anã vermelha, com uma temperatura superficial muito inferior à do Sol (abaixo dos 3.200º C) e é isso que permite que um gigante gasoso que será, pelo menos, 60% mais maciço que Júpiter, descreva uma órbita à volta da sua estrela tão próxima que equivalerá apenas ao triplo da distância que a Lua descreve em volta da Terra… Mesmo assim, estima-se que a temperatura superficial do planeta (a expressão não tem muito sentido pois, como gigante gasoso, ele não tem superfície) atinja os 1.650º C!
Em redor da estrela 55 Cancri A, que se situa a 55 anos-luz do Sol, já se identificaram até agora 5 exoplanetas, confirmando as suspeitas que sistemas como o nosso podem ser comuns no Universo. Os planetas orbitam a estrela em ciclos de respectivamente, 2,8, 15 e 44 dias (todos mais próximos do que a órbita de Mercúrio), 260 (entre a de Vénus e a da Terra) e 5.218 dias (um pouco para lá da de Júpiter). Este último planeta é um colosso, quatro vezes mais maciço do que o gigante joviano. Em contraste, a descoberta de outro colosso, o 91 Aquarii Ab a 148 anos-luz de nós (com o triplo da massa de Júpiter e com uma órbita semelhante à percorrida por Mercúrio), representou a adição de um planeta a um sistema que sabíamos ser composto por cinco estrelas!
Como se pode perceber por estes exemplos, que representam apenas 2% daquilo que já foi descoberto, e voltando a comparar esta busca por novos exoplanetas com o Star Trek (acima), embora a busca não seja transmitida semanalmente na televisão e tenha provavelmente muito menos fãs (sobretudo muito menos exuberantes…), trata-se de uma outra maneira de, como dizia o genérico original da série televisiva, to boldly go where no man has gone before (****). Se alguma coisa se pode concluir destes primeiros 15 anos de explorações para lá do nosso Sistema Solar, lembrando-nos de tudo o que se aprendeu entretanto, é a dimensão colossal da nossa ignorância sobre o Universo…

(*) Como muitas outras descobertas científicas esta também está envolta em controvérsia e os autores e a data da primeira descoberta dependem da nacionalidade das fontes consultadas.
(**) Conforme as fontes, mais ou menos actualizadas, entre 321 e 339.
(***) No entanto, essas explicações estão disponíveis, quer em artigos científicos on-line, quer na Wikipedia.
(****) Chegar audaciosamente até onde ninguém ainda tinha chegado.

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