08 maio 2008

TUDO POR OBAMA, NADA CONTRA OBAMA

Geralmente gosto do que Rui Tavares escreve. Descobri ontem, quando a SIC Notícias o convidou para analisar o momento das primárias democratas, que ele também se sai muito bem em televisão. Por sair-se bem entenda-se que me estou a referir ao aspecto formal da argumentação que emprega quando defende as suas ideias. Porque em termos de distanciamento e imparcialidade quanto aos protagonistas do fenómeno que analisa, Rui Tavares tem tópicos em que é um bom discípulo da escola de análise Luís Delgado

Barack Obama é o candidato presidencial norte-americano de Tavares e substancial, que não formalmente, a atitude de ontem do analista para com o seu candidato escolhido fez-me lembrar aquele lema da época de Salazar quanto à atitude para com nação: tudo por ela, nada contra ela… Assim, pela descrição do tudo por Obama, nada contra Obama de Rui Tavares ontem, Obama soou a um depositário de todas as esperanças mundiais – incluindo, parece que acessoriamente, as de alguns norte-americanos…

Só que, ao contrário dos pecados de Luís Delgado, que considero um irrecuperável quanto à obtusidade do seu maniqueísmo, creio que são as simpatias em excesso que fazem turvar a lucidez das normalmente mais objectivas análises de Rui Tavares. Nelas, ao contrário das suas conclusões de ontem, a forma e o fundo não se costumam confundir. Se, como afirmou, o estilo de campanha de Obama se distingue do clássico só o optimismo lhe permite extrapolar que a sua hipotética actuação com presidente também será assim.

É que em Janeiro de 2009, seja quem for que tenha vencido as eleições presidenciais de Novembro anterior, o descomunal legado de George W. Bush há-de ser o maior constrangimento das primeiras iniciativas de quem vier a ser o seu sucessor. E, ao contrário do que se pode deduzir do que ouvi ontem a Rui Tavares, os interesses essenciais da sociedade que acabou de eleger o novo presidente permanecerão essencialmente os mesmos e é a eles que mesmo Obama terá que responder. Desejar diferente é bonito, mas não é sóbrio.

4 comentários:

  1. É o eterno problema do "Wishful Thinking" que leva as pessoas a tomarem posições maniqueístas.
    Até eu que não sou, nem por sombras, analista político me deixo contagiar ainda que (julgo)moderadamente.
    Já agora, é capaz de me sugerir um opinador que se "diferencie" pela diferença?

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  2. Em política internacional (era o tema que Rui Tavares estava a tratar) um opinador que já aqui elogiei pela profundidade do seu trabalho é Jorge Almeida Fernandes.

    Há é que comprar o Público de Domingo porque ele não "dá" na Televisão.

    Em televisão, apesar de Luís Costa Ribas (SIC) ser assumidamente democrata, "controla-se" normalmente muito melhor no facciosismo do que Rui Tavares o fez anteontem.

    É que eu divirto-me imenso a ver o Jon Stewart mas há que se ter em conta que "aquilo" é só "metade" da América.

    Podemos não simpatizar com eles mas George W. Bush recebeu 50 milhões de votos em 2000 e 62 milhões em 2004... Há que contar com eles nas análises políticas.

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  3. Luís Delgado tem uma visão estreita, tão maniqueísta que se pode definir pela expressão que repete mil vezes, "ponto de vista".
    Vista curta...

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  4. Luís Delgado defende frequentemente posições minoritárias mas o que nele impressiona é forma como costuma ser tão canhestro na forma como o faz. Ouço-o e penso como Pedro Santana Lopes pode ser assim tão "castigado" por um simpatizante incondicional.

    O único mistério é a razão porque, com todos aqueles "predicados", o continuam a convidar para "aparecer", quando há naquela área ideológica quem consiga expor muito melhor as suas opiniões.

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