17 agosto 2007

EXOBIOLOGIA

Se há notícias verdadeiramente importantes que são possíveis na nossa época, uma delas é a da descoberta de indícios de vida noutro local do universo, mais provavelmente num outro astro do sistema solar, como seja a superfície de Marte ou no hipotético oceano que existe sob a superfície gelada de Europa, um dos satélites de Júpiter. Evidentemente que a grande maioria dos cientistas acredita que, a acontecer esse cenário, a vida que virá a ser descoberta será microscópica.

Nessa eventualidade, serão vários os cenários possíveis. No primeiro, as formas de vida descobertas poderão ser muito similares às que conhecemos na Terra. No segundo, sendo uma forma de vida diferente das já conhecidas, mesmo assim pode ser que ela se baseie também num esquema aparentado com o do DNA / RNA / proteínas que nós conhecemos. Finalmente, no terceiro e último, pode ser que as formas de vida sejam radicalmente diferentes dos modelos terrestres, isto é, se chegarmos a conseguir identificá-las como tal…
Seja qual fosse o cenário, ele teria efeitos devastadores no nosso pensamento científico. No primeiro caso, a Teoria da Panspermia* iria ser catapultada para um lugar de destaque ímpar e a tornar-se praticamente incontestada, uma vez que ficaria demonstrada a facilidade de circulação sideral dos elementos constituintes da vida. A investigação sobre as causas para o aparecimento da vida iria sofrer uma transformação radical, agora independente das condições primitivas do nosso planeta.

Provavelmente, também os programas SETI** de pesquisa de vida inteligente no universo receberiam um enorme reforço, dada a impressão, à luz dos novos conhecimentos, que o universo poderia estar repleto de primos... Mas esse entusiasmo pela procura da família seria acentuadamente menor no segundo caso, que podemos equiparar à descoberta de certas crianças atentas, quando descobrem pelo som do motor que há carros com motores diesel que funcionam a gasóleo, ao contrário do carro do pai…
Não é difícil imaginar como seria a convulsão científica causada pela descoberta e estudo de novos compostos que se comportariam como o nosso DNA e RNA e as implicações que daí se extrairiam, nomeadamente a certeza do carácter específico da vida na Terra, ao mesmo tempo que se ganharia uma certeza quase absoluta que haveria uma tendência evolutiva universal para que os átomos se agrupassem em moléculas cada vez mais complexas até formarem uma estrutura que as levasse a usar os elementos em seu redor para produzirem cópias de si mesmas…

No campo da bioquímica, ir-se-iam começar a ensaiar outros modelos funcionais de vida alternativos, em antecipação a terceiros modelos que pudessem vir a ser encontrados noutros locais. O que não há é qualquer certeza que possa haver modelos imaginados que consigam antecipar as formas de vida do nosso terceiro cenário: as que se possam distinguir completamente dos modelos terrestres que conhecemos, seja por não se basearem no carbono, por absorverem energia de formas que nos sejam inimagináveis, ou por terem ciclos de reprodução de fracções de segundo ou de milhares de séculos, ou ainda por outras causas…
Com esta disciplina da exobiologia à mão, que é um verdadeiro convite às especulações mais ousadas e onde o disparate à solta ou a primeira coisa que nos passa pela cabeça até podem ser contributos muito positivos para o alargamento das hipóteses que se poderão defrontar ao futuro ao conhecimento humano, é com a maior sinceridade que confesso o meu desapontamento pelo facto de que o famoso investigador em biologia João Miranda ande a malbaratar por aí o seu entusiasmo e as suas capacidades em assuntos que são tão terrestres e tão passíveis de serem sujeitos ao contraditório…

* A Panspermia é uma teoria segundo a qual as fontes de vida se encontram disseminadas por todo o universo.
** SETI é o acrónimo em inglês para Search for Extra-Terrestrial Intelligence, a busca de inteligência extraterrestre.

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