04 agosto 2016

O REGIME DE QUATRO DE AGOSTO E A LIÇÃO DO QUE NÃO SÃO AS DIREITAS EUROPEIAS

Há precisamente oitenta anos (4 de Agosto de 1936), o general Ioannis Metaxas declarou o Estado de Emergência e a Lei Marcial na Grécia, criando uma ditadura que viria a ser conhecida pelo dia da sua fundação - o Regime de Quatro de Agosto. A fotografia acima sintetizará muitas das suas características: os soldados, o padre (de costas), o género de saudação de braço estendido e a quem essa saudação é dirigida - Metaxas aparece no centro, de chapéu na mão. O discurso do regime evocava uma terceira civilização helénica, depois da da Grécia clássica da Antiguidade e da Romana/Bizantina medieval, sediada em Constantinopla. Da primeira, o regime recuperava as virtudes (sobretudo espartanas) do militarismo, abnegação e disciplina enquanto à segunda ia buscar as virtudes do centralismo político e da uniformidade religiosa (cristianismo ortodoxo). Embora copiasse alguns dos aspectos mais histriónicos do fascismo italiano - Metaxas era o Protos Argotis (primeiro agricultor) e o Protos Ergatis (primeiro operário) e também se deixava tratar por Arkhigos (o líder) - as características do regime grego iam-se inspirar mais ao figurino do Estado Novo português - inspirador de várias ditaduras europeias desse tempo.
Uma das suas designações oficiosas era precisamente Neon Kratos (Novo Estado). O Neon Kratos desapareceu em 1941, alguns meses depois da morte prematura de Metaxas. E acabou destruído pelo fascismo italiano e, posteriormente, pelo nazismo alemão, quando ambos os exércitos invadiram a Grécia no quadro maior da Segunda Guerra Mundial. Ao contrário do internacionalismo proletário à esquerda, a própria essência ideológica dos nacionalismos de direita faz com que cada um deles fosse muito mais egoísta e muito menos coordenado com os seus congéneres do resto do continente. Berlim ou Roma nunca tiveram o mesmo ascendente sobre partidos irmãos e outros países do que Moscovo. E como Salazar saberia bem demais no caso do vizinho Franco, à direita, a afinidade ideológica nunca impediu uma agressão militar. Hoje em dia baralha-se tudo, pretendem-se formar confederações da direita europeia como se se tratassem de partidos de esquerda (abaixo, da esquerda para a direita, Andrej Danko, Eslováquia, Frauke Petry, Alemanha, Marine Le Pen, França, Geert Wilders, Holanda, e Viktor Orbán, Hungria). É um disparate como mostra este exemplo histórico da Grécia (entre outros): a direita autoritária nunca funcionou em bloco apenas pela sua ideologia...

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