12 dezembro 2013

A MORTE DE «CHANQUETE» E OUTRAS HISTÓRIAS AINDA MAIS SÉRIAS


Verão Azul foi uma série juvenil espanhola que se tornou uma referência para a geração em idade de a ver quando foi transmitida em princípios da década de oitenta. Se cá foi um sucesso, na Espanha havia sido uma loucura. No penúltimo episódio, há uma personagem estimada, um velho marinheiro com a alcunha de Chanquete, que morre, o que provocou uma verdadeira comoção colectiva, transplantada até para as capas dos jornais e revistas de toda a Espanha (abaixo). Mas o que eu quero mesmo realçar é a ironia do facto de, quando dezoito anos depois, o mesmo actor António Ferrandis que interpretava Chanquete veio efectivamente a falecer, a notícia foi dada com um destaque infinitamente inferior àquele que fora dado à morte da sua personagem…
Lembrei-me de realçar este paradoxo onde a ficção se sobrevaloriza à realidade, quando leio em jornais a natureza dos documentos revelados por Edward Snowden – a forma como a NSA se pode apropriar na Internet dos cookies, dos jogos on-line, dos sites pornográficos ou das redes de telemóveis, para monitorar a actividade dos indivíduos que ela quiser seleccionar. E de como as desapercebidas denúncias de Snowden poderiam ganhar popularidade se equiparadas às vicissitudes de Winston Smith (de Mil Novecentos e Oitenta e Quatro), Bernard Marx (de Admirável Mundo Novo) ou Guy Montag (de Fahrenheit 451). Como se comprova acima, os retoques de ligeireza ficcional em assuntos sérios podem produzir milagres na atenção despertada nas opiniões públicas…

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