06 dezembro 2011

A REALIDADE LENDÁRIA POR DETRÁS DE YES, MINISTER

Não deixa de ter a sua ironia que, enquanto a transmissão das séries Yes, Minister e Yes, Prime Minister (acima) ao longo da década de 1980 dava visibilidade ao discreto poder exercido pelos altos funcionários do Civil Service britânico, Margaret Thatcher, que era a primeira-ministra de então, estava a encarregar-se de retirar esse poder àqueles mesmos funcionários reais onde a personagem ficcionada de Sir Humphrey Appleby se fora inspirar. Sobre o assunto perdura aliás uma lenda sobre a qual não é possível verificar a veracidade...
Quando Margaret Thatcher chegou ao poder em 1979, pediu-lhes um estudo a respeito de um compromisso eleitoral assumido pelo seu partido para a privatização da British Nacional Oil Company (BONC, actualmente designada por Britoil). Longos meses se escoaram até lhe entregarem um memorando de uma centena de páginas onde se explicava em detalhe porque é que aquela privatização seria impossível. Margaret Thatcher demitiu Sir Ian Bancroft (1981) e poucas semanas depois ela recebeu um outro documento muito mais conciso onde se explicava com o mesmo detalhe do anterior os passos a adoptar para a privatização da BONC… que veio a ter lugar em 1982. Não haverá quem assegure que os dois acontecimentos estejam associados mas há quem responda que, se não estão, bem deviam estar...

4 comentários:

  1. Não há ironia nenhuma. A série Sim Sr Ministro foi em larga medida desenhada para suportar a visão da Sra Thatcher. Não dá para ir tão longe que se considere que foi encomendada mas, segundo o próprio autor (da wikipedia):

    "in Yes Minister, we showed that almost everything that the government has to decide is a conflict between two lots of private interest – that of the politicians and that of the civil servants trying to advance their own careers and improve their own lives. And that's why public choice economics, which explains why all this was going on, was at the root of almost every episode of Yes Minister and Yes, Prime Minister."

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  2. Sendo a ironia uma forma subtil de expressão, sempre me ensinaram que, quando não a percebemos, é mais subtil dizer que não a percebemos do que ser-se mais peremptório, sob pena de passarmos por pouco subtis. Mas como aqui, o amável autor do comentário acima afirma que “não há ironia nenhuma”, então é porque não haverá.

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  3. Seria irónico se fosse uma mera coincidência. A minha tese, baseada no testemunho do próprio autor, é que não era coincidência.
    Já o sarcasmo é uma forma pouco subtil e muito mais fácil de usar.

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  4. Então, para nos deixarmos de ironias e sarcasmos, a sua tese é uma treta. Não se aguenta perante os factos. Assenta na sua interpretação do que uma citação de um dos autores da série quererá dizer (eu subscreveria aquela opinião, que é muito mais sociológica do que ideológica), na sua opinião que essa série serviu para “suportar a visão” da Sra. Thatcher e, “não dando para ir tão longe que se considere que” a série “foi encomendada”, acaba por deixar ficar a insinuação que o foi…

    Ora, se Antony Jay, o co-autor da série que citou, se situava ideologicamente próximo de Margaret Thatcher, o outro co-autor, Jonathan Lynn, posicionava-se um bocado mais à esquerda, dando à série aquela equidistância política que todos os que se lembram dela conhecem e que foi uma das principais razões do seu sucesso. Só uns anos depois da série ter começado é que os assessores políticos de Margaret Thatcher a aconselharam a ter aquilo que qualificou de “visão” e “atrelar-se” à popularidade que entretanto ela alcançara. Um gesto que terá provocado o desagrado não só de Lynn como dos principais actores da série, Paul Eddington e Nigel Hawthorne.

    Uns parágrafos acima ou abaixo do “site” onde terá feito o “copy paste” da citação acima de Antony Jay aparecerá decerto uma outra citação de Jonathan Lynn na cerimónia em que Thatcher apareceu para gravar um sketch em conjunto com os protagonistas da série, onde ele agradeceu à primeira-ministra “for taking her rightful place in the field of situation comedy”, uma tirada que mereceu o riso da audiência com excepção – evidentemente! – da visada. Seria caso para dizer, se aceitássemos a sua “tese”, que a “criatura” mordeu a criadora…

    Ou então, para o lembrar que as citações podem ser como os chapéus de Vasco Santana, aqui fica a opinião de Derek Fowlds para as causas do sucesso da série: “…both political sides believe that it satirises their opponents, and civil servants love it because it depicts them as being more powerful than either. And of course, they love it because it's all so authentic.”

    Factos e palavras acumular-se-iam mas direi apenas que querer reconstruir “à posteriori” a história de Yes, Minister para fazer dela um instrumento ideológico dos anos de poder de Margaret Thatcher é um disparate digno de figurar num argumento dum episódio da própria série…

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