25 novembro 2009

A EUROPA DE 1909

Olhando para um mapa que represente a Europa de há precisamente 100 anos atrás (no mapa acima) podemos observar como, especialmente a Leste, as fronteiras europeias eram então muito diferentes das que existem na actualidade. Havia muitos menos fronteiras e muito menos países independentes. Porque o mapa é alemão a Europa aparece-nos repleta de Reichs: Frankreich (França), Deutsches Reich (Império Alemão), Osmanisches Reich (Império Otomano - Turco), Russisches Reich (Império Russo)…

Mas muito mais interessante que o primeiro é um outro mapa alemão da Europa de há 100 anos atrás mas que, para além disso, data também daquela mesma altura (mais abaixo, há que clicar em cima para o ampliar), e que tem o bónus adicional de nos mostrar como é que os alemães, pelos pequenos pormenores, concebiam a Europa e o seu papel nela… Atentemos então no mapa que, para além das fronteiras de então, nos apresenta quais os idiomas predominantes nas diversas regiões europeias…

Metódico, como costumam ser os mapas alemães, escolheu-se uma cor de base para cada um dos grandes grupos matriciais de idiomas: os idiomas germânicos aparecem em tonalidades de vermelho, os românicos em tonalidades de azul ou cinzento e os eslavos em tonalidades de verde. O tom dominante no centro da Europa (também conhecido por Mitteleuropa) não nos deixa dúvidas... Também não deixa de ser interessante a pertinência da escolha de certos tons dentro de cada cor para a representação de certos idiomas...
Sendo o inglês também um idioma germânico, o tom que foi escolhido para o identificar é o mais diferenciado de todos os idiomas dessa família, ao contrário do que sucede com o neerlandês/flamengo, que, visualmente e atendendo à cor usada, mais parece uma versão um pouco diferenciada dos falares da Alemanha do Norte (niederdeutsche). Estava-se na época em que a Alemanha procurava uma projecção marítima que a rivalizasse com a britânica e onde a vocação atlântica desses povos era cortejada, sendo tratados como alemães marítimos.

Mais a Sul, nas regiões onde actualmente se situa a Áustria, apercebemo-nos que, na intenção dos cartógrafos, não passariam de habitantes de uma mesma gigantesca região natural, a Baviera (Bayern), como se não houvesse diferença entre os que tinham Viena por capital e os que a tinham em Munique. Entretanto, mais para Leste, a Hungria, Roménia ou Eslováquia também aparecem pontilhadas de locais onde ainda predominavam idiomas germânicos. Mas também havia regiões em que acontecia o contrário.

Nas regiões mais orientais do Império Alemão, e maugrado as simpatias pró-germânicas dos desenhadores do mapa, pareceu-lhes impossível não reconhecer que existia ainda uma grande faixa em território prussiano em que o idioma dominante continuava a ser eslavo (polaco), mesmo quase um século depois da anexação à Prússia (1815). As fronteiras orientais da Alemanha que vieram a ser traçadas em 1919, depois da Primeira Guerra Mundial (mapa abaixo), respeitam as divisões linguísticas existentes à época.

Nota: Este é um poste prometido como resposta a um comentário do João Moutinho em Dreikasereck.

5 comentários:

  1. Cá está um post imperdível.

    Lembro-me de quando visitei Praga há pouco mais de dez anos - recentemente já só "República Checa", sem ser "popular" e com a Eslováquia independente.

    Vi num dos belos museus tratados de astronomia de Keppler e outros em que o uso de checo ou alemão parecia um pouco aleatório. O alemão parecia naquelas épocas ter a vantagem de ser uma língua franca - e da classe dominante.

    Reparei noutros pormenores, fui a um cemitério em Praga em que as lápides dos cristãos estavam escritas em checo mas a dos judeus em alemão - é que a Tora também tinha sido traduzida para o alemão (uma das cinco línguas que os rabinos permitiram a sua tradução).

    Outra coisa que não esperava é que a Estação de Comboios chamava-se Francisco José II, e lá estava a fotografia do Imperador. Fiquei um pouco baralhado. Até porque eu queria acreditar que a ascensão do nazismo era uma conspiração da ralé austro-bávara.

    E os hábitos alimentares dos checos não eram muitos diferentes dos Bávaros, tal como outros hábitos. Como é evidente não fiz questão de lhes mostrar isso. Notei mais a diferença em termos de Religião e o facto de Praga estar muito mais virada para o Turismo do que Munique.

    Quanto aquela história das Sudetas...

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  2. Mais um excelente e esclarecedor post, já que a língua é um dos elementos do património intangível de um povo susceptível de se transformar num poderoso factor do potencial estratégico de um Estado, ou seja do poder nacional.

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  3. "Cá está um post imperdível."
    E não são todos?

    :)))

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  4. É simpático ler estes comentários elogiosos, mas a moderação manda-me alertar a Maria do Sol – que, a propósito, está com uma play-list no seu blogue, invejável… – que há uma multidão por aí que se farta de perder “postes imperdíveis”.

    Olhe, um deles foi (ou foram) o(s) autor(es) do argumento de uma espécie de reconstituição do 25 de Novembro que ontem passou na RTP1 depois da meia-noite onde, a meio de uma hipotético diálogo entre Costa Gomes e Álvaro Cunhal em Belém por altura dos acontecimentos, puseram o então Presidente da República a dizer que “se iria ver forçado a defender a Constituição” (sic). A tal de Constituição que o General defenderia é que ficou por perceber, se seria ainda a de 1933 ou se era já a que ainda estava a ser elaborada pelos deputados da Assembleia Constituinte…

    Quem também se fartará de perder “postes imperdíveis” – provavelmente será pela “excelência dos conteúdos” que apresenta na SIC Notícias – é Mário Crespo que, há menos de meia hora, conseguiu assassinar Fernão de Magalhães, mas na Indonésia… Eu bem sei que os indonésios não são gente da nossa confiança, invadiram Timor-Leste e isso tudo, mas os livros de História geralmente costumam culpar os filipinos…

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  5. Brevemente escreverei qualquer coisa sobre os alemães da Roménia.
    (Este post está muito bom, mas essas situações que assinala, e com notável perspicácia, também davam uns engraçados).

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