
A
Torre de Pisa é um dos monumentos mais conhecidos de Itália, precisamente por causa do seu defeito, a sua inclinação de quase 4º que a torna única no Mundo. Foram apresentadas milhares de soluções de engenharia para corrigir essa inclinação. Mas as soluções ideais têm que ser sempre de compromisso, pois ao mesmo tempo que travam o aumento da inclinação da torre (que se chegou a verificar ao ritmo de 1 mm por ano), também têm que a fazer permanecer inclinada e uma descomunal fonte de receitas de turismo para a cidade. Que interesse teria uma Torre de Pisa endireitada?
Mas a lição que quero tirar da história da Torre de Pisa é a da sua construção, iniciada em 1173. Quando a torre havia atingido o terceiro piso (1178) é que ela se começou a inclinar, por causa das condições do solo e da pouca profundidade das fundações. Os trabalhos foram suspensos, reatados 90 anos mais tarde, a Torre foi finalmente concluída em 1350 (177 depois de iniciada), mas todos os trabalhos realizados a partir de 1178 foram dominados pelas tentativas de correcção da inclinação então adquirida – nota-se, aliás, que a Torre é subtilmente
torta no sentido inverso ao da inclinação.
O problema da Torre de Pisa é assim uma coisa basilar, estrutural, defeito que também costumo associar a certas tipos de argumentos que, mau grado os desenvolvimentos, por vezes excelentes, são coisas que, como diz o nosso ditado popular,
tarde ou nunca se endireitam. É o caso de um senhor que dá pelo nome de José Albergaria e tem um
blogue com o
sóbrio nome de
Aqueduto Livre e que, pelo que escreveu num seu
poste,
não gostou particularmente da apreciação que fiz do programa
Câmara Clara, num
poste que aqui havia escrito há uns três dias atrás, conforme me vim a aperceber por acaso.
Não me agrada particularmente que num
poste em que José Albergaria chega a interpelar-me formalmente (com expressões como
recorda-se, agradeço-lhe, aceite…) não tenha tido a atenção (para não falar da educação…) de fazer uma ligação ao
poste do
blogue de que discordava, ou de ali deixar um comentário discordante, ou de ali deixar um comentário chamando a atenção para o
texto discordante que publicara, ou enviando uma mensagem para o meu
e-mail… Enfim, o acaso corrigiu o erro, mas preferiria estar a falar de alguém de quem tivesse a certeza que agira para que eu o lesse…
Faça-se também notar a José Albergaria, se lhe tiver escapado, que o meu nome consta em lugar visível no
blogue (A.Teixeira) e que o recurso a trocadilhos, no caso
tratando-me por Aécio ou por o “general” Aécio, geralmente não costumam melhorar a qualidade da argumentação de quem os emprega. Será que ele pretende que eu o venha a tratar de maneira simétrica por
Senhor Aqueduto Livre? A propósito de nomes de
blogues, deverei felicitar José Albergaria, pois é o primeiro caso que presenciei em três anos de blogosfera em que a descortesia começa logo pela crítica ao nome do
blogue do interlocutor.
Porque, sobre
frontalidade e sobre
pomposidade, concordando totalmente com a crítica recebida (
Herdeiro de Aécio é, de facto, um título
pomposo), deixem-me realçar alguns momentos
felizes que tive a oportunidade de ler graças ao
poste de José Albergaria,
com menções e citações (de memória!) de Marc Bloch sobre a batalha de Borodino… São momentos de onde se
exuma a modéstia!... Noutro momento de
sobriedade, a cumplicidade que me exigem (
Sabe-o tanto quanto eu…) sobre os nomes dos
enormes especialistas nessa matéria é grandiloquente e chega a ser lisonjeira, mas terei de o desapontar…
Mas estes foram apenas os aspectos acessórios, porque o essencial da crítica assenta no
lamentável relato do programa da Paula Moura Pinheiro feito pelo "general" Aécio. Ora eu não fiz, nem me propus fazer, nenhum relato do programa
Câmara Clara. O
bom do José Albergaria resolveu interpretar o texto à sua vontade e com toda a sua
boa vontade: se escrevi que apreciara a prestação do professor Dias Diogo, na opinião dele há outros muito melhores; se escrevi que a prestação do professor Medeiros Ferreira tivera momentos muito ridículos, na opinião dele, ele é o (segundo) melhor…
Até os
melhores têm dias, e é possível que aquele não tivesse sido um bom dia para José Medeiros Ferreira, e se calhar anteontem, quando escrevi aquele
poste, também não fosse um bom dia para mim, que nem sequer sou dos
melhores... Eu bem quereria desejar que ontem também tivesse sido um mau dia do José Albergaria, mas fica-me a suspeita que, tal como a Torre de Pisa que está torta desde o terceiro piso, no caso dele as coisas estejam
entortadas desde os andares iniciais, pois conseguiu extrapolar da apreciação dos convidados de um programa para as lacunas de uma hipotética apreciação que eu deveria ter feito de todo o programa!
Regressando à forma, quanto aos salamaleques colocados no fim do poste de José Albergaria que me são dedicados –
Aceite os protestos da minha critica, não do meu julgamento (quem sou eu para julgar?!...) ao conteúdo do seu blog e, particularmente, do seu poste "O Ego de César". – que contrastam escandalosamente com o teor todo em estilo
casca mais grossa do resto do texto que escreveu, resta-me concluir que nem aqueles salamaleques finais têm qualquer jeito, nem o José Albergaria terá qualquer jeito para a cortesia ou para a ironia fina.