
Passe a simplificação necessária quando se faz uma síntese compacta, pela descrição do livro, todas as grandes potências estão destinadas a passar por um ciclo de crescimento e declínio, e este último ocorre quando o crescimento do poder e dos interesses de que a potência tem de cuidar vêm a ultrapassar os recursos de que ela pode dispor. Claro que nos exemplos históricos escolhidos por Paul Kennedy tudo isso acontece de uma forma gradual mas progressiva, mas o encadeamento do ciclo parece inevitável e, como no passado, conclui-se que as relações de poder entre as grandes potências tenderão a mudar no futuro.
Para a actualidade, a aceitação daquela tese implica que a decadência dos Estados Unidos será uma certeza, a questão é o ritmo a que ela se processará e quais serão os seus substitutos de entre as novas potências emergentes. Como curiosidade, refira-se que, forte na doutrina e na capacidade de análise, Paul Kennedy se revelou muito mais frágil na capacidade de antecipação: a pentarquia em que organizou o que considerava serem os pólos de poder para o futuro (Estados Unidos, União Soviética, China, Japão e a CEE), deixou de fora a Índia e outras economias emergentes, o que é incompreensível, visto pela realidade actual…

O autismo com que a Administração norte-americana tem encarado todos esses alertas culminou ainda ontem com a apresentação do orçamento ao Congresso (é o último que apresentará…) para o ano fiscal de 2008-9 que é estruturalmente, muito idêntico ao que foram os anteriores – um aumento nas despesas militares e um aumento na despesa global. Não sendo do lado dos decisores políticos norte-americanos que se corrige, o equilíbrio global em que se vive actualmente parece ser demasiado instável para que não se excluam quaisquer hipóteses que ele se possa vir a romper por um outro lado qualquer…
Uma dessas hipóteses, que foi abordada num artigo da revista Atlantic (A Questão dos 1,4 biliões**), poderá ser a própria China, cujo governo até agora tem obrigado a sua população, por causa da estabilidade dos fluxos do comércio externo (veja-se abaixo), a manter uma atitude de aforrador perante o despesismo descontrolado norte-americano. Assim, segundo o artigo, os dirigentes chineses poderiam dispor-se a começar a utilizar uma parte do seu tesouro acumulado de 1,4 biliões de dólares, explorando as potencialidades do seu mercado interno e melhorando o nível de vida da sua população em detrimento do do Estados Unidos.

Enquanto se assiste à enorme animação que cerca a próxima disputa presidencial, imagina-se quão difícil será a tarefa futura de quem vier a sair vencedor daquelas eleições. Os Estados Unidos parecem aproximar-se de grandes mudanças, e pelas decisões que se adiaram durante o ciclo da Administração Bush, ter-se-ão que vir a fazer sacrifícios, onde quem estiver a dirigir o país terá, muito provavelmente, de transmitir à população mensagens que a esta não lhe agradará ouvir. Há reestruturações que vingam, mas também é frequente que falhem, e são essas perspectivas sombrias que se defrontam a qualquer dos candidatos…

** Triliões no original, segundo a nomenclatura norte-americana.
É um mal que não atinge apenas as nações poderosas.
ResponderEliminarEu próprio já estou a sentir o declínio da grande potência...