01 dezembro 2005

HOJE HÁ CONQUILHAS, AMANHÃ NÃO SABEMOS

A Banda do Casaco tinha destas coisas. Aos seus discos melhores dava-lhes títulos mais banais; quando os discos eram menos bons, compensava com a imaginação posta nos títulos. Se bem recordo, neste caso, a inspiração veio de um letreiro afixado numa casa de pasto mas não faço a mínima ideia o que é que os ovos estrelados estão ali a fazer.

Pelos vistos o mundo já era imprevisível há quase 30 anos, e isso também se reflectia nas incertezas do petisco que uma casa de pasto tinha para oferecer aos seus clientes. Hoje os restaurantes finos já podem garantir o abastecimento regular de salmonete, linguado, robalo, garoupa de aquacultura, todos pescados no Atlântico Nordeste – enfim, nas suas margens…

A actualidade tem imprevisibilidades diferentes. Para os funcionários da British Airways constou da notícia que a empresa onde trabalham se prepara para despedir metade dos seus funcionários e eliminar cerca de um terço dos seus cargos de chefia.

Já tive oportunidade de me pronunciar aqui neste blogue, manifestando toda a minha desconfiança sobre o siso demonstrado pelo tal de mercado (de capitais). A prática de anunciar uma avalancha de despedimentos (sempre aos milhares) para melhorar a cotação bolsista da empresa, é de uma gramática tão lógica, como as promessas eleitorais prometendo baixas de impostos.

A novidade aqui, em relação ao tempo em que podiam faltar as conquilhas, é que os despedidos pertenciam normalmente àquilo que os anglo-saxónicos designam por blue collar, o operariado; a novidade no caso da British Airways é que os futuros despedidos pertencem aos white collar, aos funcionários que, possivelmente, já votaram Tatcher e agora votam Blair.

A mesma classe que, na Alemanha, quando se sentiu ameaçada, votou maciçamente em Adolfo Hitler…que pôs o mercado a trabalhar para ele.

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