13 dezembro 2005

COISAS DO ARCO DA VELHA


É o título de um excelente (quiçá o melhor) disco da Banda do Casaco. Também é um exemplo flagrante de uma expressão portuguesa nossa que, quando analisada pelo seu conteúdo, nada contém do conceito que pretende transmitir. Quem pode dizer o que é o arco-da-velha? Ou melhor, o que é um arco-da-velha?

Mas a expressão do arco-da-velha é ímpar quando pretendemos descrever alguma situação mirabolante que só a nós ou entre nós acontece. A minha avó empregava uma variante só dela (isto só visto, contado ninguém acredita) para os flagrantes, há quem tenha uma visão mais abrangente e estruturante (isto só neste país), mas são tudo expressões de um indicador em que não estamos certamente na cauda da Europa: a capacidade portuguesa de demonstrar indignação.

É de uma boa dose dela que os alemães precisarão se se confirmar a notícia que o ex-chanceler Gerhard Schroeder vai aceitar um cargo de consultor na Gazprom – trata-se do gigante estatal russo para a produção e comercialização de gás natural! Havendo negociações em curso para a concretização de um mega negócio de fornecimento de gás russo a alguns países da União (entre os quais a Alemanha), é, no mínimo, desconfortável para os alemães que o seu ex-governante apareça agora defendendo a posição contrária.

Ficamos para ver se, nessa eventualidade, Schroeder virá a ser sancionado, nem que seja apenas socialmente e através dos canais da comunicação social. Seria sinal de que, como de costume, as coisas do arco-da-velha continuam paroquialmente confinadas a este nosso cantinho europeu.

Se não houver essa sanção, então tanto melhor, porque será um sinal de que estamos na vanguarda da nova moralidade europeia, basta pensar no que, por exemplo, (não) se comentou a propósito do emprego pós-ministerial de Pina Moura. É como se a atitude de mandar gente reconvertida pela janela fora estivesse a perder charme…

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