29 maio 2018

OS BOMBARDEAMENTOS QUE SE PODEM EVOCAR E OS BOMBARDEAMENTOS QUE É MELHOR ESQUECER

Ainda 29 de Maio de 1943. No mesmo dia, os bombardeiros aliados atacaram a cidade francesa de Rennes quanto a cidade alemã de Wuppertal. Em Portugal, um jornal do dia seguinte noticiava, objectivamente, tanto um quanto outro. O bombardeamento sobre França tivera lugar de tarde e fora da responsabilidade da Força Aérea americana, o sobre a Alemanha fora nocturno, como se tornara habitual nas acções de bombardeamento da RAF britânica. Não se mencionavam os custos humanos porque ainda seria cedo para isso, nem os estragos, porque isso constituiria segredo militar. Mas as narrativas contabilizam 195 mortos no caso francês e 2.732 mortos no caso alemão. A escala parece ter sido substancialmente diferente, mas não será isso que explica o tratamento completamente distinto dado a acontecimentos de natureza idêntica, tal como aconteceu com estes dois episódios simultâneos depois de 1945. Se, no caso de Wuppertal, os acontecimentos puderam continuar a ser evocados, terríveis mas merecidos no quadro da justiça da Guerra, no caso de Rennes, aquilo que aconteceu deixou de ser falado, que ele parece que há certas tragédias que, precisamente por não serem lineares nas culpas de autores e das vítimas, o melhor é serem esquecidas.

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