09 fevereiro 2017

A PROPÓSITO DAS «PESSOAS-LIVRO» DE FAHRENHEIT 451

aqui me referi há bastantes anos neste blogue a este livro de Ray Bradbury que posteriormente foi transformado num filme por François Truffaut. A história passa-se num futuro distópico em que o analfabetismo é incentivado e a alfabetização reprimida. Mas não toda a leitura: como se pode apreciar na primeira cena abaixo, que foi retirada do filme, o protagonista está a ler uma revista de BD, com a particularidade de nela terem sido expurgados todos os diálogos e descrições. Também as referências nesse filme aos livros perseguidos são de uma petulância descabida: (Arthur) Miller, (Lev) Tolstoi, Walt Whitman, (William) Faulkner, etc. Ao longo de todo o filme raramente se vê uma obra que seja de não ficção - uma excepção é a previsível revista Cahiers du Cinema onde Truffaut escrevia - ou então um livro escrito por um qualquer autor secundário desconhecido*.

Apesar das liberdades artísticas que acabam por distorcer a mensagem, ontem surpreendi-me a pensar nas cenas finais do filme e na imagem marcante das pessoas-livro (book-people, abaixo) que estão encarregues de memorizar uma obra para a preservar para a posterioridade. E a razão para tal foi porque, a propósito de mais um que havia lido, me pus a inventariar os livros que possuía cá em casa (e lera) sobre a Turquia. E ao enumerá-los senti-me estranhamente marginal, como se este mundo actual, embora não seja exactamente distópico na dimensão como Bradbury o concebeu, para lá caminhasse: ainda não há pessoas-livros, mas há a ínfima minoria dos que efectivamente os lêem. E o conteúdo e complexidade das centenas de páginas desses livros não é nada que interesse às restantes, conforme se reflecte no comportamento predominante nas redes sociais, em que se discute - quando se discute... - tudo pela rama.

* Livros queimados e/ou mencionados no decorrer do filme: Don Quixote - Othello, the Moor of Venice - Vanity Fair - Madame Bovary - Le monde a coté - Alice's Adventures in Wonderland & Through the Looking-Glass - Gaspard Hauser - Robinson Crusoe - The World of Salvador Dali - Jeanne d'Arc - Life and Loves - The Weather - My Autobiography by Charles Chaplin - Les negres - Confessions of an Irish Rebel - The Ginger Man - Petrouchka - The Catcher In The Rye - The Moon and Sixpence - Lolita - David Copperfield - Mein Kampf - She Might Have Been Queen - Social Aspects of Disease - The Ethics of Aristotle - The Brothers Karamazov - The Sorrows of Young Werther - The Martian Chronicles - Plato's Republic - Fahrenheit 451 - Pride and Prejudice - Gone with the Wind - Animal Farm - No Orchids for Miss Blandish - Jane Eyre - Moby Dick - The Picture of Dorian Gray - The Adventures of Tom Sawyer - The Trial

1 comentário:

  1. Muito bom artigo. Eu amo a história de Fahrenheit 451! Para mim é uma das melhores obras de ficção cientifica que foram escritas. A história de Fahrenheit 451 é uma das minhas preferidas. Li o livro de Ray Bradbury faz alguns anos e foi uma das melhores leituras até hoje. Faz um pouco eu também li o Fahrenheit 451 resumo do filme novo que vai ser estreia neste mês. Acho que é uma boa idéia fazer este tipo de adaptações cinematográficas. Eu vi o filme de Truffaut mas acho que este filme será melhor. Além nos vai fazer refletir. De verdade, adorei que tenham feito este filme.

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