19 maio 2015

TOMATES COR DE LARANJA

Fevereiro de 1982. Já há dois anos que a Direita ocupava o poder, pela primeira vez desde o 25 de Abril. Haviam sido dois anos plenos de vicissitudes. A maioria que levara a coligação AD ao poder saíra reforçada das urnas nas eleições de Outubro de 1980, mas perdera o seu líder (Sá Carneiro) dois meses depois num desastre aéreo. E o mesmo eleitorado que os reforçara em Outubro reelegera em Dezembro o outro candidato presidencial, Ramalho Eanes. Um pouco mais de um ano após estes últimos acontecimentos, a direcção política do PCP resolvera-se por fim a enfrentar um governo que começava a mostrar variados sinais de desgaste, alguns dos quais vindos do interior da própria coligação. E o terreno de embate que os comunistas iriam eleger seria o campo laboral, onde se sentiam os mais fortes, considerando a força que exerciam através do seu braço sindical, a CGTP. Esta organização convocou para o dia 12 de Fevereiro de 1982 uma, até então inédita, Greve Geral (acima, cartaz da esquerda). Ainda os portugueses não sabiam que muitas outras greves gerais se seguiriam, submetidas a motes quase idênticos nos 33 anos seguintes, por isso aquela carregava consigo o interesse da novidade, de se saber se se podia mudar para uma nova política, parecidíssima com a do PREC. Qual seria a capacidade concreta de mobilização dos trabalhadores (expressão que enchia o discurso oficial do PCP) por parte desse mesmo PCP? É nesse ambiente de expectativa que nas vésperas da greve, se assiste à curiosa manobra do PSD distribuir uns garridos autocolantes cor de laranja para colar à lapela, para quem quisesse ostentar a sua oposição a quem estava a promover a greve geral (acima, ao centro). Lá veio o dia da greve, onde um ministro da Administração Interna se celebrizou por ter aparecido na televisão exibindo uns pregos sabotadores, num registo de paródia equivalente à objectividade dos balanços posteriores de tais eventos quando feitos pelo Avante! (acima, à direita). Mas esta última parte é, para o que queremos destacar, o que menos interessará.

O que dei por mim a perguntar foi, trinta e três anos passados e com a Direita a ocupar o poder de novo nos últimos quatro anos, se o aparelho do PSD terá hoje a mesma coragem de reeditar um outro autocolante laranja também garrido, reeditando a coragem das suas bases de apoio em endossar as políticas governamentais publicamente. É que estas novas gerações já não conseguirão distinguir entre o que é mostrar apoio directo a um governo em exercício e o que é apoiá-lo fazendo oposição...à oposição. Ou explicado de uma outra forma: ouvir argumentar a alguém que Passos Coelho é o melhor primeiro-ministro para Portugal em vez de o(s) ouvir apenas a apresentar os defeitos de António Costa...

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