09 setembro 2014

OS REFERENDOS SOBRE A INDEPENDÊNCIA DO QUÉBEC

A realização do próximo referendo sobre a independência da Escócia é um bom pretexto para recordar o caso do Québec, única província canadiana onde existe uma maioria francófona, e onde já se realizaram dois referendos (em 1980 e 1995) questionando a sua independência do Canadá. O impacto de uma eventual secessão quebequense no Canadá seria muito superior ao caso da secessão escocesa no Reino Unido. Começando pela geografia e olhando para o mapa acima, percebe-se como, ao contrário do que sucede com a Escócia que ocupa o Norte da ilha, uma eventual independência quebequense deixaria o Canadá dividido, com quatro das dez províncias (e 7% da população) a ficarem isoladas na fachada Atlântica, a Oeste, do resto do país onde residem os restantes 70% dos canadianos. A população do Québec – os 23% em falta nas contas acima – quase atinge actualmente os oito milhões (para comparação, refira-se que os escoceses são um pouco mais de cinco milhões e menos de 9% da população total do Reino Unido).
Adiante-se, para preâmbulo das condições que presidiram ao primeiro referendo, que a questão da francofonia e dos direitos dos francófonos no Canadá se mantivera uma questão pesada ao longo de todo o Século XX. Já aqui contei no blogue um episódio mais vivido dessa questão de Julho de 1967, quando de Gaulle foi expulso do Canadá por comportamento indecente (ao gritar Vive le Québec Libre!), por muito presidente de França que ele fosse. No ano seguinte formava-se o Parti Québécois independentista, em 1976 o PQ ganhava as eleições provinciais e formava o primeiro governo pró-independência e foi sob a égide desse governo que o referendo foi convocado para Maio de 1980. Prolongando a dinâmica de uma época em que houvera uma avalancha de independências por todo o Mundo (64 entre 1957 e 1975), a ponto de o discurso político confundir regularmente a autodeterminação com a independência, a do Québec parecia um caso consumado. Mas não foi. O Não venceu com 59,5% dos votos e uma maioria robusta de mais de 700 mil votos sobre o Sim.
O mito simplista (muito propagandeado na Europa a partir de Paris) que o Québec francófono só permanecia agarrado ao Canadá anglófono porque nunca fora consultado desmoronou-se com fragor nessa Primavera de 1980. Depois disso, o PQ abandonou o poder em 1985 para só regressar em 1994. A proposta que foi apresentada a referendo em Outubro do ano seguinte era muito mais moderada do que a anterior, capaz de captar os moderados que, pugnando por maior autonomia, se mostravam cautelosos com as consequências de uma independência. E, considerando a robustez da maioria alcançada quinze anos antes, quem se terá apresentado com confiança excessiva ao acto eleitoral foram os partidários do Não. Dessa vez o Não venceu mas por uma unha negra: 50,6% da votação, a maioria reduzida a 54 mil votos. Embora o PQ já tenha regressado ao poder por uma terceira vez entre 2012 e 2014, fê-lo com um governo minoritário e, por isso, sem condições políticas para organizar mais um referendo para alcançar aquele que é o seu objectivo último confesso: a independência do Québec.

2 comentários:

  1. Se nao me engano, aquelas propostas independentistas causaram nao poucos problêmas economicos, pois o próprio banco do quebec, cuja matriz, lógicamente, estava em quebec, se tranferiu a toronto, no canada anglofono.

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  2. E agora o Bank of Scotland ameaça publicamente fazer a mesma coisa na Escócia caso haja secessão. Imagine-se lá a «coincidência»...

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